A relação entre o clima e a saúde humana é um tema amplamente discutido por cientistas, médicos e especialistas em diversas áreas. Embora o clima, em sua forma mais geral, seja algo que todos nós experimentamos em nosso cotidiano, seu impacto nas condições de saúde pode ser mais profundo e abrangente do que imaginamos. As variações de temperatura, umidade, poluição do ar, exposição à radiação solar, além de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, tempestades e inundações, têm consequências diretas sobre o organismo humano. Assim, exploraremos a fundo as influências do clima na saúde, destacando os fatores ambientais que afetam o bem-estar, o papel da mudança climática e as medidas preventivas que podem ser adotadas.

O impacto da temperatura nas funções corporais
A temperatura externa desempenha um papel fundamental na regulação do corpo humano. Quando exposto a temperaturas extremas, o organismo precisa de ajustes para manter sua temperatura interna estável, o que pode resultar em sobrecarga no sistema cardiovascular e outras consequências para a saúde. Durante ondas de calor, por exemplo, o risco de desidratação e doenças relacionadas ao calor, como insolação e exaustão térmica, aumenta significativamente.
Segundo o Dr. Paulo Martins, cardiologista e especialista em doenças relacionadas ao calor, “O calor extremo pode causar uma elevação na frequência cardíaca e pressão arterial, além de prejudicar a capacidade de respiração e provocar aumento do risco de AVC, infarto do miocárdio e insuficiência renal.”
Em contraste, em climas muito frios, o corpo pode enfrentar dificuldades em regular sua temperatura interna. As baixas temperaturas podem agravar doenças respiratórias, como asma, bronquite e enfisema, e também aumentar a chance de acidentes devido à queda, como fraturas e lesões graves. Em condições extremas, pode ocorrer até o congelamento de partes do corpo, o que pode levar à perda de tecidos.
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Poluição do ar e seus efeitos na saúde respiratória
Outro fator climático crucial para a saúde humana é a poluição do ar. A qualidade do ar é fortemente influenciada por fatores climáticos, como a temperatura, a umidade e a presença de ventos, que podem tanto dispersar como concentrar poluentes em determinadas áreas. A poluição atmosférica é conhecida por ser uma das principais causas de doenças respiratórias crônicas, como a asma, a bronquite crônica e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 7 milhões de mortes anuais são atribuídas à poluição do ar, com uma grande parte dessas mortes ocorrendo em áreas urbanas e industriais. A poluição do ar também tem sido associada ao aumento da incidência de doenças cardiovasculares e até ao desenvolvimento de câncer de pulmão. Além disso, em países com clima mais seco e quentes, como o Brasil, as altas concentrações de ozônio no ar podem ter efeitos ainda mais prejudiciais à saúde.

A radiação solar e os efeitos na pele e no sistema imunológico
A exposição à radiação solar é outra forma de interação entre o clima e a saúde humana. Embora a luz solar seja essencial para a síntese de vitamina D, que fortalece o sistema imunológico e melhora a absorção de cálcio pelo organismo, a exposição excessiva pode ter consequências graves para a pele. A radiação UV é um dos principais fatores responsáveis pelo câncer de pele, que inclui tipos como o melanoma, o carcinoma basocelular e o espinocelular.
A dermatologista Dra. Carla Pinto, professora da Universidade de São Paulo (USP), explica que “A exposição excessiva à radiação UV danifica o DNA das células da pele e pode levar à formação de tumores. Além disso, ela acelera o processo de envelhecimento precoce da pele e pode comprometer a função do sistema imunológico.”
Em contrapartida, a exposição solar insuficiente, especialmente em regiões de clima mais frio e nublado, pode resultar em deficiência de vitamina D, um fator que também prejudica o sistema imunológico, além de aumentar o risco de osteoporose e doenças cardiovasculares.
Mudanças climáticas e seus efeitos na saúde global
Nos últimos anos, as mudanças climáticas têm se tornado uma preocupação crescente para a saúde humana. O aumento da temperatura global, o derretimento das calotas polares e a alteração dos padrões de precipitação estão causando eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos. Esses eventos, como furacões, secas prolongadas e inundações, têm impacto direto na saúde da população, seja pela destruição de infraestrutura, escassez de água potável, disseminação de doenças infecciosas ou pela ameaça de desnutrição.
De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), “as mudanças climáticas podem prejudicar a saúde humana, causando um aumento de doenças transmitidas por vetores, como a dengue e a malária, e ampliando os riscos de doenças respiratórias e cardiovasculares relacionadas ao calor extremo e à poluição.”
Além disso, as populações vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças pré-existentes, são mais propensas a sofrer os efeitos adversos das mudanças climáticas. A adaptação às novas condições climáticas, como o aumento das ondas de calor, será um desafio crescente para os sistemas de saúde pública.
O clima e a saúde mental
O clima também pode afetar a saúde mental, com variações sazonais, como o transtorno afetivo sazonal (TAS), um tipo de depressão que ocorre em determinadas épocas do ano, geralmente no inverno, quando a luz solar é mais escassa. Estima-se que cerca de 5% da população mundial sofra desse transtorno. As causas não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que a falta de luz solar afete a produção de serotonina no cérebro, um neurotransmissor que regula o humor.
Além disso, eventos climáticos extremos, como furacões, incêndios florestais ou secas, podem causar estresse psicológico significativo, aumentando o risco de transtornos como ansiedade e depressão. A perda de habitação e a destruição de meios de subsistência contribuem para uma crise de saúde mental entre as vítimas dessas tragédias climáticas.
Prevenção e cuidados: como proteger a saúde em diferentes climas
Dado o impacto do clima na saúde humana, é fundamental adotar práticas de prevenção para reduzir os riscos associados às variações climáticas. Algumas medidas incluem:
- Hidratação e alimentação adequada: Durante ondas de calor, manter-se bem hidratado é essencial para prevenir a desidratação e outras complicações. Além disso, uma alimentação equilibrada pode fortalecer o sistema imunológico.

- Uso de protetor solar e roupas adequadas: A proteção contra a radiação UV é essencial, especialmente em regiões com altos índices de radiação solar. O uso de protetor solar, chapéus e óculos de sol ajuda a prevenir queimaduras e câncer de pele.
- Monitoramento de condições climáticas extremas: Acompanhar as previsões meteorológicas pode ajudar a se preparar para condições extremas, como tempestades, ondas de calor e frio intenso. Medidas de preparação incluem ter em casa medicamentos de uso contínuo, água potável e alimentos não perecíveis.
- Ações para reduzir os efeitos da poluição: Em áreas com alta poluição do ar, o uso de máscaras e a redução da exposição a ambientes poluídos são medidas importantes para proteger os pulmões e o sistema respiratório.
- Cuidados com a saúde mental: É fundamental procurar apoio psicológico após eventos climáticos extremos, seja por meio de terapia ou apoio social, para lidar com os efeitos emocionais desses acontecimentos.
A influência do clima na saúde humana é multifacetada e vai além das condições imediatas de temperatura ou umidade. A interação entre o ambiente e o corpo humano é complexa e envolve uma série de fatores que, quando não geridos adequadamente, podem resultar em sérios problemas de saúde. À medida que o clima continua a mudar, o impacto sobre a saúde global também tende a aumentar, tornando urgente a adoção de estratégias de prevenção e adaptação. Assim, é vital que governos, organizações de saúde e a sociedade como um todo estejam atentos aos efeitos do clima, buscando sempre formas de mitigar seus impactos na saúde humana.