A expressão “Tropa de Oruam” tornou-se motivo de debate na cena musical brasileira, envolvendo o rapper Oruam e suas letras que fazem referência ao crime organizado. Em uma de suas composições, ele canta sobre a “selva do Urso” e a “tropa do Urso” — termos que apontam diretamente para o universo do Comando Vermelho (CV) e seu líder conhecido como Doca, apelidado de “Urso”.

O que significa Tropa de Oruam?
Oruam vem se destacando no rap nacional por retratar, com crueza, a realidade das favelas. Filho de Marcinho VP – líder do Comando Vermelho, preso desde 1996 -, ele utiliza em suas letras referências explícitas ao tráfico, violência e presença simbólica da facção. A menção à “selva do Urso” em “Rolé na Favela de Nave” está no centro da polêmica.
Esse vínculo familiar e simbólico reforça a ideia de que suas composições são, no mínimo, provocativas — e, segundo críticos, passam da linha da liberdade artística para a glorificação do crime.
Quem é ‘Urso’? Entenda a figura por trás do símbolo
Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, ou simplesmente “Urso”, é uma das principais lideranças do Comando Vermelho. Ele comanda a chamada Tropa do Urso, grupo formado por cerca de 300 homens armados, usados sobretudo em ações de dominação territorial e conflitos com rivais — inclusive em confrontos violentos em favelas do Rio de Janeiro.
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Doca é investigado por dezenas de práticas criminosas graves: invasões de comunidades, envolvimento em mais de cem assassinatos, sequestros — como o de um helicóptero policial — e uso de drones-lançadores de granadas em ações violentas. Sua repercussão vai além das fronteiras do Rio, e imagens e símbolos ligados ao seu grupo circulam como alerta ou como idolatria dentro dos espaços urbanos dominados pelo tráfico.

Expansão da ‘Tropa do Urso’ no Espírito Santo
A influência da Tropa do Urso não se restringe à capital fluminense. Em Colatina (ES), o grupo vetor de expansão do CV entrou em guerra com facções locais, como a “Tropa do Nono”, levando à execução de seu líder, João Vitor, em novembro de 2024. Esse evento devastou a resistência local, consolidando o domínio da Tropa do Urso sobre pelo menos dez bairros da cidade.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) articulou a Operação Wyoming, com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), cumprindo mandados de prisão e apreensão, e comprovando que as ordens vinham diretamente do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
Líderes da facção em Colatina, como Bryan Lyrio Deolindo, Hugo Henrique dos Santos (também chamado de “Urso”) e Vinicius Lung, fugiram para o Rio, de onde coordenavam as ações de forma remota, inclusive execuções, por vídeo chamadas.
Polêmicas nas letras na ‘Tropa de Oruam’: apologia ou retrato social?
A polêmica em torno de Oruam passa justamente por essa dualidade: suas letras seriam um retrato cru da realidade ou uma apologia explícita ao crime organizado? Trechos como “É que, na selva do urso, sabe que nós é o assunto” são vistos por críticos como glorificação da violência e do controle territorial exercido.
Especialistas e autoridades observam a conexão entre arte, criminalidade e poder. O coronel Ubiratan Ângelo, analista de segurança pública do Rio, destaca o uso estratégico de figuras como Doca.

“Ele é uma pessoa muito estrategista. Utiliza métodos de guerrilha para treinar seus soldados. Tudo isso faz com que Urso se torne uma referência para o crime”.
Além disso, o Delegado Deverly Pereira Junior, titular da DHPP de Colatina, no Espírito Santo, destaca como, mesmo sem conhecer pessoalmente os líderes do Rio, os jovens integrantes da facção em Colatina seguem as ordens.
“Constatou que os principais líderes têm ligação estreita com ordens partem diretamente do Complexo da Maré”.
Por que este debate importa?
Legitimação simbólica: a música pode servir de ferramenta de legitimação — seja intencionalmente ou não — de estruturas criminosas.
Influência cultural: artistas como Oruam têm alcance, e suas mensagens reverberam entre jovens em contextos vulneráveis.
Responsabilidade social: denúncias e preocupações sobre apologia ao crime em manifestações artísticas, e potenciais limites legais.