Em uma medida que tem gerado discussões no mercado financeiro, o governo federal anunciou mudanças significativas na tributação das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Esses investimentos, tradicionalmente isentos de Imposto de Renda (IR), eram amplamente utilizados por pequenos investidores em busca de alternativas seguras e rentáveis. A alteração nas regras fiscais levanta questões sobre a equidade do sistema tributário brasileiro e o impacto nas classes de renda média e baixa.

LCI e LCA: o que são e por que eram populares
As LCIs e LCAs são títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras, com lastro em créditos imobiliários e do agronegócio, respectivamente. Criadas com o objetivo de fomentar esses setores, essas letras ofereciam aos investidores a vantagem da isenção de IR, tornando-as atraentes para quem busca segurança e rentabilidade. Além disso, esses investimentos são protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira em caso de falência do emissor.
De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os títulos de investimento que antes eram isentos de Imposto de Renda passarão a ser tributados com alíquota de 5%, a partir de 2026. As debêntures incentivadas também serão incluídas na nova regra. Contudo, a tributação valerá apenas para novas aplicações. Os títulos que já foram emitidos, continuam isentos.
“Os títulos deixarão de ser isentos mas continuarão bastante incentivados. A isenção criava distorções, inclusive na rolagem da dívida pública. A diferença de zero, como é hoje, para 17,5%, de outros títulos, vai ser reduzida. Vai ser 5%. Todos os isentos passarão a ter essa cobrança”, disse o ministro.
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A rentabilidade das LCIs e LCAs, atrelada ao CDI, proporcionava retornos competitivos, frequentemente superiores aos da poupança e do Tesouro Selic. Por exemplo, títulos que pagavam 97% do CDI ofereciam rendimentos próximos a 14% ao ano, isentos de IR.
Mudanças na tributação: o fim da isenção
Em fevereiro de 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou alterações nas regras para investimentos isentos de IR, incluindo as LCIs e LCAs. Uma das principais mudanças foi o aumento do prazo mínimo de carência para resgate desses títulos. Anteriormente, os investidores podiam resgatar seus investimentos após 90 dias; agora, o prazo mínimo foi estendido para 9 meses para LCAs e 12 meses para LCIs, dependendo do tipo de indexador.
Além disso, o governo federal propôs a tributação de rendimentos de LCIs e LCAs, que anteriormente eram isentos de IR. Essa mudança visa aumentar a arrecadação tributária, mas também representa um aumento na carga fiscal para os investidores desses produtos.

Impacto nos pequenos investidores
As LCIs e LCAs sempre foram alternativas acessíveis para pequenos investidores que buscavam diversificar seus portfólios com produtos de baixo risco e boa rentabilidade. Com a retirada da isenção de IR, esses investidores enfrentam uma redução no retorno líquido de seus investimentos. Por exemplo, um título que anteriormente rendia 14% ao ano, isento de IR, passaria a oferecer um retorno inferior após a tributação.
Além disso, o aumento do prazo mínimo de carência reduz a liquidez desses investimentos, dificultando o acesso rápido aos recursos em caso de necessidade. Essas mudanças podem desestimular a aplicação de pequenos investidores em LCIs e LCAs, levando-os a buscar alternativas com maior flexibilidade, mas possivelmente com maior risco.
O paradoxo da tributação no Brasil
O sistema tributário brasileiro é frequentemente criticado por sua complexidade e pela carga desigual de impostos. Estudos indicam que as classes de renda média e baixa são as que mais contribuem proporcionalmente para a arrecadação tributária, enquanto as faixas de renda mais altas e as grandes corporações encontram formas de minimizar sua carga tributária. Essa situação levanta questões sobre a justiça fiscal no país.
A tributação das LCIs e LCAs, produtos tradicionalmente voltados para pequenos investidores, pode ser vista como mais uma medida que onera as classes médias e baixas. Enquanto isso, propostas de reforma tributária buscam aumentar a carga sobre rendas mais altas e grandes empresas, mas a efetividade dessas propostas ainda é incerta.
Alternativas para os investidores
Diante das mudanças nas regras das LCIs e LCAs, os investidores podem considerar outras opções de investimento que ofereçam boa rentabilidade e segurança. Títulos públicos, como o Tesouro Direto, continuam sendo uma alternativa sólida, embora sujeitos à tributação. Além disso, fundos de investimento e debêntures incentivadas podem ser considerados, dependendo do perfil de risco e dos objetivos financeiros do investidor.
É fundamental que os investidores reavaliem seus portfólios à luz das novas regras e busquem alternativas que atendam às suas necessidades de rentabilidade, segurança e liquidez.