Em tempos de instabilidade econômica e incertezas no mercado de trabalho, ter uma reserva de emergência deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade. A crise gerada pela pandemia da COVID-19 e os impactos econômicos subsequentes mostraram com clareza a importância de um planejamento financeiro sólido.
Segundo levantamento do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), cerca de 60% dos brasileiros não possuem nenhum tipo de poupança ou reserva financeira. Essa realidade escancara a vulnerabilidade financeira da população e destaca a urgência do tema.
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O que é uma reserva de emergência?
A reserva de emergência é um montante de dinheiro guardado exclusivamente para situações inesperadas, como perda de emprego, problemas de saúde, consertos urgentes na casa ou no carro, entre outros imprevistos. A ideia é que essa quantia funcione como um colchão financeiro, protegendo você de recorrer a créditos caros, como o cheque especial ou o cartão de crédito, que possuem juros elevados.
Por que criar uma reserva de emergência?
De acordo com Nath Finanças, educadora financeira popular, “Ter uma reserva de emergência é o primeiro passo para conquistar a tranquilidade financeira. Antes de pensar em investir ou fazer grandes compras, é fundamental garantir esse fundo de segurança.”
Entre os principais motivos para criar uma reserva estão:
- Proteção contra imprevistos;
- Redução do estresse financeiro;
- Evitação de endividamento;
- Liberdade para tomar decisões com mais calma;
- Primeiro passo para uma vida financeira saudável.
Quanto guardar na reserva de emergência?
Especialistas como Gustavo Cerbasi, autor de diversos livros sobre finanças pessoais, recomendam que o valor da reserva seja equivalente a três a seis meses dos seus custos fixos mensais. Caso você seja autônomo ou tenha uma renda instável, o ideal é considerar uma reserva de até 12 meses.
Por exemplo, se suas despesas mensais somam R$ 3.000, sua reserva deve ficar entre R$ 9.000 e R$ 18.000. Essa quantia pode variar de acordo com seu estilo de vida, obrigações financeiras e perfil profissional.
Onde guardar a reserva de emergência?
O local onde sua reserva será guardada é tão importante quanto o valor economizado. O dinheiro precisa estar em um investimento seguro, com alta liquidez (ou seja, que possa ser resgatado a qualquer momento) e baixo risco. As opções mais recomendadas incluem:
- Tesouro Selic: título público com rendimento atrelado à taxa Selic, indicado pelo Tesouro Direto para reserva de emergência.
- CDBs com liquidez diária: títulos de renda fixa emitidos por bancos, com possibilidade de resgate imediato.
- Fundos DI: fundos de investimento que acompanham a taxa de juros, geralmente com baixa taxa de administração.
- Contas remuneradas de bancos digitais: alternativas modernas que já oferecem rendimento acima da poupança e resgate imediato.

Como começar a montar sua reserva?
- Conheça suas despesas mensais: anote todos os seus gastos fixos e variáveis para ter clareza sobre quanto precisa guardar.
- Defina a meta: estipule o valor total da sua reserva de emergência com base em suas despesas.
- Estabeleça um valor mensal para poupar: mesmo que comece com R$ 50, a regularidade é mais importante do que o valor.
- Automatize os depósitos: programe transferências automáticas para não esquecer de guardar.
- Evite tocar nesse dinheiro: lembre-se de que ele deve ser usado apenas em emergências reais.
Reserva de emergência e investimentos: qual a relação?
Antes de começar a investir em ativos de maior risco como a bolsa de valores, criptomoedas ou fundos imobiliários, é essencial ter sua reserva de emergência montada. Isso garante que você não precise resgatar um investimento em momento de desvalorização.
Segundo a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), muitos investidores iniciantes cometem o erro de alocar todo o capital em investimentos voláteis, sem um fundo de emergência para respaldo, o que pode levar a perdas significativas e desistência precoce da jornada de investidor.
Reserva de emergência x Poupança: qual a melhor opção?
Embora a poupança seja a opção mais conhecida entre os brasileiros, ela deixou de ser a mais vantajosa. Com rendimento inferior à inflação em muitos períodos, o dinheiro na poupança perde poder de compra ao longo do tempo.
Segundo dados do Banco Central, a poupança rendeu 6,17% em 2023, enquanto a inflação (IPCA) foi de 5,91%. Apesar do saldo positivo, opções como Tesouro Selic e CDBs de bancos médios ofereceram rendimentos mais atrativos, com o mesmo nível de segurança e liquidez.
O papel da educação financeira
A falta de conhecimento sobre planejamento financeiro é um dos principais motivos para a ausência de uma reserva de emergência. Segundo o Relatório de Bem-Estar Financeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV), 76% dos brasileiros afirmam não ter aprendido sobre finanas pessoais na escola.
Iniciativas como a da educadora Nath Finanças e o programa “Aprender Valor”, do Banco Central, têm se mostrado fundamentais para promover a conscientização e ensinar boas práticas desde a juventude.
Dicas para manter sua reserva intacta
- Separe da conta corrente: manter a reserva em uma conta diferente ajuda a evitar gasta-la sem perceber.
- Reavalie periodicamente: ao mudar de emprego, casar ou ter filhos, atualize o valor da sua reserva.
- Reponha imediatamente após uso: se precisar usar a reserva, faça um plano para repô-la o quanto antes.

Montar uma reserva de emergência é uma das atitudes mais importantes para garantir estabilidade financeira e paz de espírito. Além de proporcionar segurança diante de imprevistos, esse fundo evita endividamentos e prepara o terreno para um futuro mais próspero.
Comece pequeno, mas comece. Como diz Gustavo Cerbasi, “Guardar dinheiro não é sobre quanto você ganha, mas sim sobre quanto você gasta”. E a construção da sua liberdade financeira pode começar com o simples hábito de guardar um pouco todo mês.