Nos últimos anos, as apostas em eventos não esportivos, como eleições e sucessões papais, têm ganhado popularidade. O conclave de 2005, que elegeu o Papa Bento XVI, foi um marco nesse fenômeno, com a casa de apostas irlandesa Paddy Power registrando mais de 357 mil euros em apostas, tornando-o “o maior mercado de apostas não-desportivas de todos os tempos”. No entanto, essa prática levanta questões éticas e religiosas, especialmente dentro do cristianismo.
A Bíblia não aborda diretamente as apostas em eventos como a eleição papal, mas oferece princípios que guiam os cristãos em relação ao jogo de azar. A Igreja Católica, por meio de documentos oficiais, aborda a questão dos jogos de azar e apostas, destacando os riscos associados e fornecendo orientações para os fiéis. Dessa maneira, veja o que a Bíblia e a Igreja Católica dizem sobre jogos de azar, analisando sua posição em relação às apostas na sucessão papal.

Apostas nas eleições papais: uma prática histórica
As apostas nas eleições papais remontam ao século XV. Em 1419, a República de Veneza proibiu apostas na vida do Papa, cancelando apostas já feitas. No século XVI, apostas em conclaves papais eram comuns, com probabilidades sendo ajustadas conforme os cardeais favoritos. No entanto, em março de 1591, o Papa Gregório XIV impôs uma penalidade de excomunhão contra qualquer pessoa que apostasse no desfecho ou duração das eleições papais, banindo a prática nos Estados Papais. Esse cânone foi revogado em 1918 pelas reformas do Papa Bento XV.
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No século XXI, casas de apostas como a Paddy Power começaram a aceitar apostas sobre o sucessor do Papa João Paulo II antes de sua morte, tornando-se um mercado lucrativo .
O que a Bíblia diz sobre jogos de azar
Embora a Bíblia não aborde diretamente os jogos de azar, ela oferece princípios que podem ser aplicados a essa prática.
1. O amor ao dinheiro
Versículos como 1 Timóteo 6:10 afirmam: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males”. Esse amor pode levar à ganância e ao desejo de enriquecimento rápido, características frequentemente associadas ao jogo de azar.
2. A busca por riqueza desonesta
Provérbios 13:11 diz: “A riqueza obtida com desonestidade diminuirá, mas quem a ajunta aos poucos terá cada vez mais”. Isso sugere que métodos que prometem ganhos rápidos e fáceis, como as apostas, podem ser moralmente questionáveis.
Eclesiastes 5:10 afirma: “Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. Isso também não faz sentido”.
3. A dependência do vício
1 Coríntios 6:12 adverte: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por nada”. O vício em jogos de azar pode levar à perda de controle e à escravidão do comportamento, o que é contrário aos ensinamentos bíblicos.
4. Responsabilidade familiar
1 Timóteo 5:8 destaca a importância de cuidar da família: “Se alguém não cuida dos seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. O jogo de azar pode prejudicar financeiramente a família, indo contra essa responsabilidade.
5. A confiança em Deus
Mateus 6:24 afirma: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro”. O jogo de azar pode se tornar um ídolo, desviando a confiança de Deus para a sorte ou o acaso
A posição da Igreja Católica sobre jogos de azar
O Catecismo da Igreja Católica aborda os jogos de azar no parágrafo 2413, afirmando que “os jogos de azar (jogo de cartas, etc.) e as apostas não são, em si mesmos, contrários à justiça”. No entanto, tornam-se moralmente inaceitáveis quando privam a pessoa do que lhe é necessário para suas necessidades e as de outros. A paixão pelo jogo pode se transformar em uma grave servidão. Apostar injustamente ou trapacear nos jogos constitui matéria grave, a menos que o prejuízo causado seja tão leve que quem o sofre não possa razoavelmente considerá-lo significativo.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também se posiciona contra a legalização dos jogos de azar no país. Em nota divulgada em 2022, a CNBB alertou para os prejuízos morais, sociais e familiares causados pelos jogos de azar, além dos riscos de associação com lavagem de dinheiro e crime organizado. A Conferência conclamou o Congresso Nacional a rejeitar projetos que busquem regulamentar a exploração de jogos de azar no Brasil.
Apostas nas eleições papais no contexto atual
Atualmente, as apostas nas eleições papais ainda existem, embora de forma não oficial. Casas de apostas como Paddy Power, Pinnacle Sports e William Hill já ofereceram odds para o próximo Papa, com probabilidades ajustadas conforme os cardeais favoritos. Por exemplo, no conclave de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) era um dos favoritos, com odds de 3-1. No entanto, a Igreja Católica não endossa nem regulamenta essas apostas, e elas são realizadas de forma privada e sem supervisão eclesiástica.

A posição das igrejas evangélicas
As igrejas evangélicas também condenam os jogos de azar. O pastor Roberto de Lucena, por exemplo, afirmou que os cristãos não devem participar de jogos de azar, pois isso contraria princípios bíblicos e pode levar à destruição de famílias.
“A Bíblia diz, em 1Coríntios 6, ‘não me deixarei dominar por coisa alguma’. Portanto fica claro que, o cristão que se deixa dominar pela ilusão de dinheiro fácil dos jogos já está cometendo um grave erro”, disse Lucena, ao “Guiame”:
“Toda promessa de ganho sem esforço é enganação, e engana principalmente aquelas pessoas que menos têm recursos financeiros. As loterias, os cassinos, a indústria dos jogos, é milionária em função do dinheiro de pessoas pobres. E não há sorte nisso. Há azar, tristeza, depressão, tragédias e morte, por todos os lados”, finalizou o pastor.
O teólogo Moraes ressalta que, na tradição protestante, sempre houve uma condenação às práticas dos jogos de azar, pois elas revelam falta de confiança em Deus e podem levar ao vício.
A Igreja orienta os fiéis a evitar práticas que prejudiquem suas necessidades
Embora as apostas nas eleições papais sejam uma prática histórica, elas levantam questões éticas e morais à luz dos ensinamentos bíblicos e da posição da Igreja Católica. A busca por riqueza fácil, a ganância e o risco de dependência são aspectos negativos associados aos jogos de azar. A Igreja orienta os fiéis a agir com prudência e a evitar práticas que possam prejudicar suas necessidades e as de outros. Portanto, é importante refletir sobre os princípios cristãos ao considerar a participação em apostas, especialmente em eventos religiosos como a sucessão papal