A violência urbana no Rio de Janeiro tem sido uma preocupação constante para autoridades e cidadãos. Nos últimos anos, observou-se um crescimento significativo da atuação de grupos armados, especialmente as milícias e facções de tráfico de drogas, que têm ampliado seu domínio territorial e influência sobre a população. Confira uma análise detalhada sobre o crescimento dessas organizações criminosas, com base em dados de instituições oficiais e especialistas na área de segurança pública.

1. Panorama atual: a expansão das milícias
As milícias, inicialmente formadas por ex-policiais militares, bombeiros e outros agentes de segurança, têm se consolidado como uma das principais ameaças à ordem pública no Rio de Janeiro. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Fogo Cruzado e pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), entre 2006 e 2021, as áreas dominadas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro aumentaram em 131%, passando de 8,7% para 20% do território urbano.
Dentre esses grupos, as milícias destacam-se pelo crescimento acelerado, chegando a mais de 387% e passando de 52,6 km² para 256,28 km². ocupando atualmente 49,9% das áreas dominadas por grupos armados, o que representa 10% de toda a área territorial do Grande Rio.
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A coordenadora do Geni-UFF, Maria Isabel Couto, destaca que 90,3% do crescimento das milícias ocorreu sobre novas áreas, onde não havia controle de nenhuma facção armada. Esse avanço tem ocorrido principalmente em sub-bairros e conjuntos habitacionais, áreas antes não dominadas por nenhum grupo criminoso.

2. O tráfico de drogas: presença e influência
Embora as milícias tenham mostrado um crescimento mais expressivo, o tráfico de drogas continua a ser uma ameaça significativa à segurança pública. O Comando Vermelho, uma das principais facções de tráfico no Rio de Janeiro, controla atualmente 15,4% do território da cidade, com uma população estimada de 2.042.780 habitantes sob sua influência.
Em 2023, o Comando Vermelho ultrapassou as milícias em domínio territorial na região Metropolitana do Rio de Janeiro, controlando 51,9% das áreas dominadas por grupos armados, enquanto as milícias detinham 38,9%.
Além disso, outras facções, como o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Amigos dos Amigos (ADA), também mantêm áreas de domínio, embora em menor escala. O TCP controla 8,9% do território, enquanto o ADA ocupa 1,1%.
3. A população sob influência de grupos armados
A expansão das milícias e do tráfico de drogas tem impactado diretamente e gerado uma série de consequências negativas para a sociedade carioca. Estima-se que 38,8% da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro viva em áreas sob domínio de grupos armados, um aumento significativo em relação aos 22,5% registrados em 2008. A imposição de taxas ilegais, como a cobrança por serviços de gás, eletricidade e transporte, entre outros, tem sobrecarregado a população.
Além disso, 57,1% da população carioca reside em territórios controlados ou disputados por organizações criminosas, conforme dados de 2019.
Esse cenário tem gerado uma sensação de insegurança entre os moradores dessas regiões, que enfrentam diariamente a presença de grupos criminosos e a escassez de serviços públicos essenciais. Além de comprometer a qualidade de vida das pessoas que vivem nessas áreas.
4. Fatores contribuintes para o crescimento dos grupos armados
Diversos fatores têm contribuído para o crescimento das milícias e do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. A crise fiscal e política enfrentada pelo estado entre 2014 e 2017, tem dificultado a atuação efetiva das autoridades, resultando na fragilização das instituições de segurança pública, facilitando a expansão desses grupos. A autonomia das polícias e o fim da Secretaria de Segurança Pública em 2019 também são apontados como elementos que contribuíram para a expansão desses grupos.
A falta de políticas públicas eficazes e a ausência de uma gestão integrada entre as forças de segurança também têm permitido que milicianos e traficantes ocupem áreas antes não dominadas por facções criminosas.

5. Iniciativas e desafios no combate aos grupos armados
Diversas iniciativas têm sido implementadas para combater a expansão das milícias e do tráfico no Rio de Janeiro. Operações de segurança pública, como as realizadas pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e pela Polícia Civil, visam desarticular organizações criminosas e retomar o controle de territórios dominados por facções.
Além disso, programas de inclusão social e desenvolvimento econômico têm sido propostos como estratégias para reduzir a vulnerabilidade das comunidades e evitar que se tornem alvos de grupos criminosos.
A expansão do crime organizado representa um desafio à segurança pública
O crescimento das milícias e do tráfico de drogas no Rio de Janeiro representa um desafio significativo para a segurança pública e o bem-estar da população. Com base em dados de instituições oficiais e especialistas, é possível compreender a magnitude desse problema e a necessidade de estratégias eficazes para combatê-lo. A colaboração entre órgãos governamentais, sociedade civil e comunidades é essencial para reverter esse quadro e garantir um ambiente mais seguro para todos.