Copacabana, um dos bairros mais emblemáticos do Rio de Janeiro, é internacionalmente conhecido por sua praia, vida noturna vibrante e sua relevância turística. No entanto, nas últimas décadas — especialmente a partir dos anos 2010 — a região passou a ser marcada também por outro fenômeno: tornou-se o reduto preferencial das manifestações de direita no Rio de Janeiro.
Sejam protestos a favor de intervenções militares, atos contra o Supremo Tribunal Federal (STF), caminhadas em apoio a líderes conservadores ou celebrações de datas cívicas, é em Copacabana que milhares de manifestantes se reúnem. Mas por que essa escolha se repete com tanta frequência? O que há por trás dessa preferência geográfica e simbólica?
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Raízes históricas e perfil socioeconômico
Para compreender essa escolha, é preciso voltar no tempo. Copacabana sempre foi um bairro de grande diversidade, mas também de forte presença de classes médias e altas tradicionalmente conservadoras. Segundo o IBGE, mais de 25% da população do bairro é composta por pessoas com mais de 60 anos, faixa etária que, segundo diversas pesquisas eleitorais, tende a aderir mais frequentemente a pautas de direita ou centro-direita.
De acordo com a socióloga Ana Lúcia Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ):
“Copacabana reúne características únicas: é acessível, tem infraestrutura para receber grandes eventos e possui um público residente que se alinha, em boa parte, com discursos conservadores. Isso a torna o cenário ideal para manifestações desse espectro político.”
Facilidade logística e apelo visual
Outro fator relevante é a estrutura urbana de Copacabana. A Avenida Atlântica, com seu amplo calçadão à beira-mar, é ideal para a montagem de palcos, caminhadas e grandes aglomerações. A facilidade de acesso por metrô, ônibus e carros também facilita a mobilização de manifestantes de diferentes zonas da cidade.
Além disso, o apelo visual da orla cria uma imagem midiática forte, que se espalha rapidamente pelas redes sociais e veículos de comunicação. Protestos com bandeiras do Brasil em frente ao mar e ao Pão de Açúcar geram um impacto simbólico poderoso.
Segundo o jornalista e analista político Leonardo Barros:
“A paisagem de Copacabana amplifica a mensagem política. Não é só protestar — é protestar em um cenário icônico que projeta força e patriotismo.”
A consolidação pós-2013 e o bolsonarismo
O ciclo de manifestações iniciado em 2013, com os protestos contra o aumento das passagens e a corrupção, foi um divisor de águas. Embora os primeiros atos tenham tido pautas difusas, nos anos seguintes, as manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff (2015-2016) consolidaram Copacabana como um bastião da nova direita carioca.
Com a ascensão do ex-presidente Jair Bolsonaro a partir de 2018, Copacabana passou a sediar com regularidade atos em defesa do governo, contra as medidas do STF e críticas à imprensa tradicional.
A cientista política Carolina Correia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica:
“Copacabana se transformou em um símbolo para os apoiadores de Bolsonaro. Tornou-se um ponto de encontro identitário, quase como um território político-cultural.”

Mídia e redes sociais: visibilidade estratégica
A visibilidade das manifestações em Copacabana é amplificada pelas redes sociais e cobertura jornalística. Vídeos, fotos e transmissões ao vivo viralizam rapidamente, o que incentiva novos atos e dá sensação de mobilização constante.
Plataformas como YouTube, X (antigo Twitter) e Telegram se tornaram ferramentas importantes para organizar e divulgar essas manifestações, sendo Copacabana o pano de fundo mais frequente.
Além disso, figuras influentes como os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro, o ex-ministro General Heleno e comunicadores conservadores como Allan dos Santos já participaram de atos ou defenderam publicamente a realização dos mesmos no bairro.
Comparação com outros pontos do Rio
Enquanto a esquerda costuma ocupar espaços como a Cinelândia e a Praça XV, locais com maior simbolismo histórico e popular, a direita encontrou em Copacabana um espaço geográfico mais “neutro” — sem vínculos diretos com a história sindical ou estudantil da cidade.
Essa escolha evita confrontos simbólicos e físicos com movimentos de esquerda e ainda cria uma nova identidade territorial para os apoiadores da direita, especialmente os mais nacionalistas ou conservadores.
A influência da classe média e dos militares aposentados
Copacabana também abriga um número significativo de militares da reserva, muitos dos quais têm participação ativa em manifestações. A proximidade com clubes militares, associações e residências de ex-oficiais facilita a adesão a atos de rua com apelo patriótico.
O professor de História Contemporânea do Colégio Pedro II, João Victor Duarte, aponta:
“O perfil de parte significativa da população de Copacabana tem raízes em valores tradicionais, disciplina militar e nacionalismo. Essa identidade se reflete na adesão às manifestações da direita.”

A escolha de Copacabana como epicentro das manifestações de direita no Rio de Janeiro é resultado de uma combinação complexa de fatores históricos, sociais, logísticos e simbólicos. O bairro reúne uma população conservadora, infraestrutura adequada, grande apelo midiático e uma paisagem que reforça o discurso patriótico frequentemente utilizado por grupos de direita.
Seja qual for o futuro da política brasileira, é certo que Copacabana já se consolidou como um espaço simbólico para a direita carioca, com potencial de se manter como palco de mobilizações por muitos anos.