Não é a primeira vez que a ressaca do mar no litoral do Rio de Janeiro avança em direção a ruas e prédios, como ocorreu na última terça-feira (29), pegando moradores e visitantes de supetão. A Marinha do Brasil avisa com antecedência sobre o tamanho das ondas, que podem chegar a 3,5 metros até a próxima quinta (31).

No entanto, na noite da última terça, as ondas ultrapassaram a expectativa e chegaram a 4 metros no Rio. Ao mesmo tempo, um terremoto de magnitude 8,8 atingiu a península de Kamchatka, na Rússia, provocando um tsunami que atingiu diversos países banhados pelo Oceano Pacífico. Afinal, apesar da grande distância entre as duas localidades, há relação entre os fenômenos naturais?
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Não. Apesar de praticamente simultâneos, os registros não têm ligação. No estado do Rio de Janeiro, a ressaca é fruto de um ciclone extratropical no Sul do Brasil, que já vem perdendo força, afastando-se da costa em direção ao alto-mar.
A ressaca é um fenômeno que gera aumento da força das ondas do mar em direção ao continente. Os ventos podem aumentar ou diminuir a força, dependendo de sua direção. Na última terça-feira, a presença de um ciclone extratropical no mar, mesmo que fora do Rio de Janeiro, fez com que as ondas ficassem maiores e mais fortes.
“A onda é gerada por vento. Quando chega ao litoral, seja pequena ou grande, em algum momento teve algum vento no meio do mar. Como foi esse caso, um ciclone extratropical, são ventos fortes que atingiram mais de 100 km/h, atuaram com uma depressão atmosférica grande e por muito tempo. O ciclone tem dias de duração no meio do mar, provocando uma série de ondas que vão ficando cada vez maiores”, afirma Marcelo Sperle, oceanógrafo e professor da Uerj, ao “O Globo”.
“Toda essa água vai sendo comprimida contra o litoral. Então é natural que o nível do mar aumente, que a gente chama de maré meteorológica, levando toda essa massa de água. Somado às alturas das ondas, tudo isso contribui para o que está acontecendo em vários lugares na costa, que é a invasão do mar na terra”.
O tsunami causado pelo terremoto no extremo oriente da Rússia afetou principalmente a costa do país e do Japão. No entanto, foi sentido também em outras localidades mais distantes do Oceano Pacífico, como os Estados Unidos, México, Chile, Peru, Equador e Nicarágua, que emitiram diversos tipos de alertas. No Havaí, por exemplo, milhares de pessoas foram evacuadas do litoral como forma de prevenção.

Dessa maneira, apesar das fortes ondas nas praias cariocas e fluminenses, não há ligação entre os fenômenos. Além de milhares de quilômetros de distância, o Rio de Janeiro fica no Oceano Atlântico.
“Alguns ciclones, além de serem muito intensos, são duradouros, prolongando-se por dias. Um grande comprimento de ondas, como as largas durante os ciclones, tem o poder de invadir o continente mais do que uma onda esbelta, que é muito curta, e isso contribui que avance mais. A altura reflete a energia que vai ser dissipada. A parede de água, quando cai, gera a energia. Há ainda o comprimento da onda que, às vezes, pode importar mais. Ele é medido de quanto tempo a onda leva para passar. Aqui no Rio é de 8 a 10 segundos, essas de ontem foram de 14 segundos. Existem registros em outras ocasiões de 16 segundos. A ressaca que já tivemos aqui vêm com o comprimento de onda”, completou Sperle.
Ressaca interdita ruas do Rio
A ressaca atingiu em cheio à Zona Sul do Rio de Janeiro. A rua Delfim Moreira, na orla do Leblon, um dos maiores cartões postais da Cidade Maravilhosa, ficou interditada nos dois sentidos nesta terça-feira (29). As fortes ondas chegaram à pista e invadiram quiosques e prédios, causando danos aos proprietários.
Em Copacabana, a situação foi semelhante. Outra cidade que sofreu com prejuízo da força do mar foi Saquarema, na Região dos Lagos.
Devido à ressaca, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) alterou o tráfego de ônibus e carros em algumas ruas do Rio de Janeiro.