A energia solar é frequentemente destacada como uma das principais soluções para uma matriz energética mais limpa e sustentável. Entretanto, apesar de seus inúmeros benefícios, como a redução da conta de luz e a menor emissão de gases poluentes, a instalação de sistemas fotovoltaicos ainda apresenta algumas desvantagens que merecem atenção.
Exploramos os principais pontos negativos da energia solar, com base em estudos técnicos, análises de especialistas e informações de órgãos oficiais, para esclarecer o que muitos consumidores ainda desconhecem antes de investir nessa tecnologia.
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Tânia Rêgo/Agência Brasil
Investimento inicial elevado
Um dos principais entraves à popularização da energia solar no Brasil é o custo inicial da instalação. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o investimento pode variar de R$ 15 mil a R$ 50 mil, dependendo da capacidade do sistema e da estrutura do imóvel. Embora esse valor tenha caído nos últimos anos, ainda é uma barreira significativa para muitos brasileiros.
De acordo com Ricardo Barbosa, diretor-executivo da ABSOLAR, “o custo inicial é o principal desafio, mas é importante considerar que o retorno sobre o investimento ocorre entre 4 e 7 anos, com vida útil do sistema superior a 25 anos”. Ainda assim, para famílias de baixa renda, o valor continua inacessível sem linhas de crédito facilitadas.
Dependência das condições climáticas
A eficiência dos sistemas solares está diretamente ligada à incidência de luz solar. Em regiões com alta nebulosidade, longos períodos de chuva ou inverno rigoroso, como o sul do Brasil, a geração de energia pode ser consideravelmente reduzida. Isso significa que, em determinados períodos do ano, a produção pode não ser suficiente para suprir a demanda da residência ou empresa.
Estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que a geração fotovoltaica no Brasil é mais eficiente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, enquanto no Sul e Sudeste há maior variabilidade sazonal. Essa dependência climática torna a energia solar uma opção menos confiável em algumas localidades.
Necessidade de espaço para instalação
Outro ponto muitas vezes negligenciado é o espaço necessário para a instalação dos painéis solares. Em áreas urbanas densamente povoadas, pode não haver telhado ou área disponível suficiente para abrigar os módulos necessários à geração de energia suficiente. Além disso, telhados com muitas sombras ou com orientação desfavorável ao sol podem comprometer a eficiência do sistema.
Segundo o engenheiro elétrico Leandro Montagnoli, “a inclinação e orientação do telhado são fundamentais. Um sistema mal projetado pode ter perdas superiores a 20%”. Portanto, a viabilidade técnica deve ser sempre avaliada antes do investimento.

Custo de manutenção e vida útil dos equipamentos
Apesar de relativamente baixos, os custos de manutenção dos sistemas solares não são inexistentes. Limpeza periódica dos painéis, inspeções técnicas e substituições de componentes, como inversores, são necessárias ao longo dos anos. O inversor solar, por exemplo, tem uma vida útil média de 10 a 15 anos, exigindo substituição durante a vida útil dos painéis.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) alerta que “a manutenção preventiva é essencial para garantir o bom desempenho do sistema e evitar perdas de geração”. Além disso, é importante verificar se os instaladores oferecem garantias adequadas e suporte técnico.
Desvalorização em caso de mudança
Ao instalar um sistema de energia solar em um imóvel, o investimento pode não acompanhar o proprietário em caso de mudança. Embora aumente o valor do imóvel, nem sempre o comprador está disposto a pagar mais por essa vantagem. Além disso, a desinstalação e reinstalação do sistema em outro imóvel pode ser custosa e tecnicamente inviável.
Legislação e taxação da geração distribuída
Um dos debates mais recentes envolvendo a energia solar no Brasil refere-se à legislação sobre a geração distribuída. A Lei 14.300/2022 estabeleceu o marco legal da micro e minigeração distribuída, prevendo mudanças gradativas na compensação de energia gerada e consumida.
A partir de 2023, novos consumidores passam a contribuir com a Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD), o que diminui a economia gerada pelo sistema. Especialistas como o advogado especialista em energia Thiago Mendes alertam: “a taxação da geração distribuída pode tornar o retorno do investimento menos atrativo, especialmente para pequenos consumidores”.
Impacto ambiental na produção e descarte
Embora a energia solar seja limpa na geração, a produção dos painéis fotovoltaicos ainda depende de processos industriais que utilizam metais pesados e substâncias químicas. Além disso, o descarte desses materiais após o fim de sua vida útil levanta preocupações ambientais.
De acordo com relatório da International Renewable Energy Agency (IRENA), estima-se que, até 2050, o mundo deverá gerar até 78 milhões de toneladas de resíduos de painéis solares. A falta de infraestrutura para reciclagem desses materiais é um desafio global, e o Brasil ainda não possui regulamentação específica para o descarte de equipamentos fotovoltaicos.

Barreiras técnicas e falta de mão de obra qualificada
O crescimento do setor no Brasil trouxe também desafios relacionados à qualidade das instalações. Há relatos de sistemas mal dimensionados, falhas de conexão e uso de materiais de baixa qualidade. Isso se deve, em parte, à escassez de profissionais qualificados e à falta de fiscalização adequada.
“A falta de padronização e certificação dos profissionais instaladores compromete a credibilidade do setor e pode gerar prejuízos ao consumidor”, afirma a engenheira Carla Dias, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Financiamento e incentivos ainda limitados
Apesar dos avanços, os incentivos governamentais para instalação de energia solar ainda são limitados, especialmente para residências. A falta de políticas públicas mais robustas de financiamento e subsídio impede que a tecnologia alcance camadas mais amplas da população.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), apenas 1% das residências brasileiras possui sistema de geração fotovoltaica, o que evidencia a necessidade de maior apoio estatal para democratização da energia solar.
Vale a pena, mas com cautela
A energia solar é, sem dúvida, uma alternativa promissora para a matriz energética brasileira. No entanto, sua implementação exige análise criteriosa de aspectos técnicos, financeiros e ambientais. Para quem deseja investir nessa tecnologia, é fundamental consultar profissionais especializados, considerar a legislação vigente e avaliar a real viabilidade do sistema para seu imóvel.
Embora as vantagens da energia solar sejam inúmeras, ignorar suas desvantagens pode transformar um investimento sustentável em uma dor de cabeça.