Em 2025, Belém, no Pará, será o palco de um dos maiores e mais importantes eventos internacionais dedicados à luta contra as mudanças climáticas: a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). A escolha da cidade, localizada no coração da Amazônia, levanta questões fundamentais sobre o papel da maior floresta tropical do mundo na regulação climática global.
Este evento, que promete ser um marco nas negociações ambientais, traz à tona a relevância do ecossistema amazônico para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas. A seguir, vamos explorar os motivos pelos quais Belém foi escolhida para sediar a COP 30, o impacto da Amazônia nas questões climáticas e o que podemos esperar desta conferência histórica.

Por que Belém foi escolhida para sediar a COP 30?
A escolha de Belém como sede da COP 30 foi anunciada em 2023, após um processo de seleção que envolveu diversas cidades ao redor do mundo. A decisão não poderia ser mais simbólica, dado que a Amazônia é um dos ecossistemas mais críticos para o equilíbrio climático do planeta. A cidade de Belém, além de ser um centro econômico e cultural do Pará, está estrategicamente localizada à margem da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, e é vista como um ponto de convergência para discussões sobre preservação ambiental e mudanças climáticas.
A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, Marina Silva, destacou a importância da escolha ao afirmar: “A Amazônia é o pulmão do mundo e tem uma relevância estratégica para o futuro da humanidade. Realizar a COP 30 em Belém é uma mensagem clara de que as soluções para a crise climática precisam passar pela preservação da nossa maior riqueza natural.”
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A presença da Amazônia no debate sobre mudanças climáticas é imprescindível. A floresta tropical é responsável por um papel crucial no ciclo do carbono global, atuando como um grande sumidouro de carbono, e qualquer alteração em sua dinâmica pode ter impactos diretos sobre as emissões de gases de efeito estufa.
A Amazônia e seu papel no equilíbrio climático global
A Amazônia não é apenas uma vasta região de biodiversidade; ela desempenha um papel essencial na regulação do clima, tanto regional quanto globalmente. Com uma área de aproximadamente 5,5 milhões de km², a floresta amazônica abrange nove países da América do Sul e é responsável por armazenar cerca de 100 bilhões de toneladas de carbono, o que a torna uma das maiores reservas de carbono do planeta. Ela atua como um “sumidouro de carbono”, absorvendo dióxido de carbono da atmosfera e ajudando a mitigar as mudanças climáticas.
Porém, essa capacidade de absorção de carbono está ameaçada pelo desmatamento e pela degradação da floresta. Estudos apontam que a taxa de desmatamento da Amazônia tem aumentado significativamente nas últimas décadas, o que resulta não apenas na liberação de carbono armazenado, mas também na perda de um dos maiores sistemas naturais de mitigação de mudanças climáticas do mundo. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 22% em 2021, um reflexo das políticas públicas que incentivaram a exploração ilegal de madeira, mineração e agropecuária.
A perda da Amazônia também comprometeria a regulação do clima regional, com impactos que podem ser sentidos globalmente. O ecossistema amazônico é vital para a manutenção dos regimes de chuvas na América do Sul, além de ser um reservatório de biodiversidade. A destruição desse bioma afetaria diretamente a agricultura, a produção de alimentos e os padrões climáticos em várias partes do mundo.

O impacto das mudanças climáticas na Amazônia
Além de ser um pilar na luta contra as mudanças climáticas, a própria Amazônia é extremamente vulnerável às alterações no clima global. O aumento da temperatura global e a mudança nos padrões de precipitação têm impactado diretamente a floresta tropical. Períodos de seca prolongada, fenômenos climáticos extremos e a elevação da temperatura do solo têm contribuído para a perda da capacidade de regeneração da vegetação e o aumento do risco de incêndios florestais.
O próprio impacto da mudança climática sobre a Amazônia torna ainda mais urgente a adoção de políticas de preservação e restauração. A floresta amazônica está se transformando de um sumidouro de carbono em uma fonte de emissões de carbono, especialmente em áreas desmatadas, onde as árvores removidas liberam grandes quantidades de CO2 na atmosfera.
A especialista em mudanças climáticas, Dra. Carla Oliveira, pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), alerta para o ciclo vicioso que as mudanças climáticas podem causar: “A mudança climática pode acelerar a degradação da Amazônia, e por sua vez, a degradação da Amazônia pode acelerar ainda mais as mudanças climáticas. Estamos em um ponto de inflexão onde qualquer ação mal orientada pode ser irreversível.”
COP 30: O que está em jogo para a Amazônia e para o planeta
A COP 30, realizada em Belém, será uma oportunidade histórica para debater soluções para a preservação da Amazônia e o enfrentamento das mudanças climáticas. O evento reunirá líderes mundiais, cientistas, ONGs, empresas e representantes da sociedade civil para discutir políticas globais de mitigação e adaptação, além de promover a implementação dos compromissos assumidos nos acordos climáticos anteriores, como o Acordo de Paris.

Um dos pontos centrais da conferência será a necessidade de financiamento para a preservação da Amazônia e outros biomas essenciais. Especialistas afirmam que, para reverter o quadro de desmatamento, é necessário um investimento contínuo em políticas públicas que promovam a restauração ecológica, o fortalecimento das unidades de conservação e a fiscalização do uso ilegal de recursos naturais.
A participação da sociedade civil, especialmente das populações tradicionais e indígenas que vivem na Amazônia, será fundamental. Essas comunidades têm conhecimento profundo sobre os ecossistemas locais e vêm desempenhando um papel fundamental na proteção da floresta, muitas vezes enfrentando pressões de atores econômicos que buscam explorar a região. A mobilização desses grupos e sua inclusão nas decisões políticas serão vitais para garantir soluções eficazes e sustentáveis.
O secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, enfatizou a importância de políticas integradas para a preservação de ecossistemas essenciais como a Amazônia: “Não podemos mais tratar a Amazônia como um simples recurso. Ela é vital para o equilíbrio do planeta e precisa ser protegida por meio de políticas claras, colaboração internacional e investimentos consistentes.”
O papel da COP 30 na redefinição do futuro climático global
Realizar a COP 30 em Belém não é apenas uma escolha geográfica, mas um convite para o mundo compreender, mais uma vez, a centralidade da Amazônia nas discussões sobre mudanças climáticas. O evento será um marco na construção de uma agenda de preservação, sustentabilidade e justiça climática, com foco na preservação de um dos ecossistemas mais ricos e ameaçados do planeta.
O futuro do clima global está intrinsecamente ligado ao destino da Amazônia. Durante a COP 30, a sociedade global terá a oportunidade de renovar seu compromisso com o meio ambiente e a construção de um futuro mais sustentável. Com o apoio das políticas públicas, da ciência, das populações locais e da mobilização global, é possível imaginar um futuro onde a Amazônia continue a cumprir seu papel como um dos maiores aliados da humanidade no enfrentamento da crise climática.
A realização da COP 30 em Belém será uma chance única de reafirmar a urgência da preservação da Amazônia e a necessidade de ações concretas para proteger o planeta das consequências das mudanças climáticas. Com o olhar do mundo voltado para a Amazônia, a conferência tem o potencial de gerar uma transformação global que poderá mudar o curso do nosso futuro climático.