A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), marcada para acontecer em Belém, no Pará, em 2025, está atraindo a atenção mundial. Este evento não apenas simboliza um marco na luta global contra as mudanças climáticas, mas também coloca a região amazônica no epicentro de discussões sobre sustentabilidade, inovação e preservação ambiental. No entanto, o encontro também vem gerando polêmica, especialmente por conta de um projeto inovador denominado “jardins artificiais”, que promete imitar as funções das árvores naturais.

Este projeto, que foi apresentado como uma solução tecnológica para o combate ao desmatamento e à mudança climática, está sendo alvo de críticas por especialistas e ambientalistas. Em vez de apostar exclusivamente em medidas para preservar a floresta original, o plano sugere a instalação de jardins artificiais que imitam o processo de fotossíntese das árvores, mas sem ter a mesma complexidade ecológica e biodiversidade que os ecossistemas naturais.
O projeto dos jardins artificiais: o que são e como funcionam
O conceito de “jardins artificiais” surge como uma tentativa de replicar as funções ambientais das árvores naturais, como a absorção de carbono e a produção de oxigênio, mas de maneira controlada e artificial. Trata-se de estruturas tecnológicas que imitam as árvores na forma, mas não têm o impacto positivo de um ecossistema florestal, que possui fauna, flora e interações complexas.
A ideia surgiu a partir do desenvolvimento de biotecnologias que buscam “copiar” os processos naturais de fotossíntese e de absorção de gases poluentes, como o dióxido de carbono (CO2), mas sem a necessidade de uma árvore física. Em vez disso, as estruturas propostas para os jardins artificiais são compostas por sistemas de plantas modificadas geneticamente ou dispositivos tecnológicos capazes de captar CO2 e até mesmo liberar oxigênio.
Leia Mais:
- A importância da reciclagem para o meio ambiente
- Desmatamento: causas e consequências para o meio ambiente e a sociedade
- Energia Solar: como funciona e quais os benefícios para a sua casa e o meio ambiente
De acordo com o engenheiro ambiental Roberto Silva, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), “a proposta de jardins artificiais é um exemplo de como a tecnologia pode ser usada para tentar compensar os danos que causamos ao meio ambiente. No entanto, não podemos nos iludir. Esses sistemas podem sim ajudar em alguns aspectos, mas não podem substituir a importância de manter as árvores e a biodiversidade dos ecossistemas naturais.”
A polêmica: solução ou ilusão?
O uso de jardins artificiais gerou um intenso debate entre ambientalistas, especialistas em clima e autoridades governamentais. Por um lado, defensores do projeto argumentam que ele pode ser uma solução prática e inovadora para as crescentes emissões de carbono, especialmente nas áreas urbanas de Belém e em outras cidades da Amazônia, onde o desmatamento avança rapidamente. Esses defensores sugerem que os jardins artificiais podem complementar a preservação das florestas, proporcionando uma abordagem mais holística para os problemas ambientais.
Por outro lado, muitos especialistas alertam para os riscos de investir em soluções tecnológicas que não conseguem replicar a complexidade e os benefícios ecológicos das florestas naturais. Em um país como o Brasil, onde a Amazônia desempenha um papel crucial na regulação climática global, substituir árvores naturais por versões artificiais seria, na visão de muitos, um erro grave.
Climatologista e coordenador do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Carlos Nobre destacou em uma recente entrevista que “qualquer solução tecnológica precisa ser vista com ceticismo se não for acompanhada de um esforço genuíno para combater o desmatamento e a degradação dos ecossistemas naturais. Não podemos usar inovações artificiais como uma desculpa para não proteger as florestas que são vitais para o equilíbrio climático global.”
O impacto da COP 30 em Belém
A escolha de Belém como sede da COP 30 tem um simbolismo profundo, pois a cidade está situada em pleno coração da Amazônia, um dos maiores biomas do planeta e, ao mesmo tempo, um dos mais ameaçados. Para o governo local e para as populações ribeirinhas e indígenas da região, a realização da COP 30 representa uma oportunidade única de colocar a Amazônia no centro da agenda internacional sobre mudanças climáticas e sustentabilidade.
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, mostrou-se otimista em relação ao evento, afirmando que “a COP 30 é uma chance de mostrar ao mundo que o Brasil e a Amazônia estão comprometidos com a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável.” No entanto, ele também enfatizou que a cidade precisa de mais investimentos em projetos de conservação e em alternativas sustentáveis para as comunidades locais, como forma de reduzir a pressão sobre a floresta.

Porém, a ideia dos jardins artificiais não é consensual entre os governantes locais. Enquanto alguns veem o projeto como uma forma de atrair investimentos em tecnologia, outros temem que a prioridade dada a soluções tecnológicas possa desviar a atenção das questões fundamentais, como a luta contra o desmatamento ilegal e a valorização das práticas de manejo sustentável das populações tradicionais.
A visão crítica de organizações ambientais
Organizações ambientais, como Greenpeace e WWF-Brasil, têm se posicionado fortemente contra a ideia de substituir árvores naturais por jardins artificiais. Para elas, a preservação da floresta amazônica deve ser prioridade, e qualquer tecnologia que desconsidere a biodiversidade e a complexidade dos ecossistemas naturais pode ser uma falsa solução para os problemas climáticos.
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma coalizão de organizações da sociedade civil que luta pelo combate às mudanças climáticas no Brasil, argumentou: “Os jardins artificiais podem até ser uma tecnologia interessante, mas nunca poderão substituir a Amazônia. Precisamos, antes de tudo, de políticas públicas que incentivem a preservação das florestas e o fim do desmatamento, além de uma mudança no modelo de desenvolvimento que favoreça a sustentabilidade.”
O desafio de conciliar inovação e preservação
Em um momento em que o mundo busca soluções para combater as mudanças climáticas, o equilíbrio entre inovação e preservação ambiental é um desafio crescente. A ideia de jardins artificiais é, sem dúvida, uma tentativa de aplicar a tecnologia para resolver um dos problemas mais urgentes do planeta: o aquecimento global e a perda de biodiversidade. No entanto, o risco de substituir ações de preservação com soluções simplistas é real.
A COP 30 pode ser o palco ideal para que esses debates sejam aprofundados e para que a sociedade global compreenda que a verdadeira solução para a crise climática passa pela proteção das florestas, a redução das emissões de gases de efeito estufa e a promoção de um modelo de desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.
O papel da sociedade e das autoridades locais
A sociedade civil e as autoridades locais desempenham um papel crucial neste cenário. É necessário que haja um diálogo entre a população, os governantes e os especialistas para encontrar soluções que atendam às necessidades ambientais, econômicas e sociais. Em Belém, um projeto que tenha o apoio da população, das comunidades locais e dos povos indígenas será mais eficaz, pois eles são os verdadeiros guardiões da Amazônia.
Portanto, é essencial que a COP 30 não apenas promova discussões sobre soluções tecnológicas, mas também sobre formas de engajar as comunidades locais na proteção da floresta e no desenvolvimento de alternativas sustentáveis para as gerações futuras.
Polêmica escancara os dilemas enfrentados na luta contra mudanças no clima
A polêmica sobre os jardins artificiais em Belém, como parte das discussões da COP 30, revela os dilemas atuais que enfrentamos na luta contra as mudanças climáticas. Embora as inovações tecnológicas possam ser parte da solução, elas não podem ser vistas como substitutas das ações essenciais para a preservação dos ecossistemas naturais, como a Amazônia.
A COP 30 será uma oportunidade não só para discutir essas questões, mas também para reforçar a necessidade urgente de proteger nossas florestas, promover a sustentabilidade e buscar soluções verdadeiramente eficazes para enfrentar os desafios climáticos globais. A Amazônia, mais do que nunca, precisa de proteção, não de substituições artificiais.