Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, marcada para 2025 em Belém (PA), o Brasil se encontra em uma posição singular para liderar o debate global sobre sustentabilidade e ações climáticas. Sediar um evento desta magnitude não apenas reforça a importância da Amazônia no combate às mudanças climáticas, mas também impõe ao país o desafio de mostrar avanços concretos em suas metas e compromissos ambientais.
Nesta reportagem especial, analisamos como o Brasil pode se destacar na COP 30, a partir de seus compromissos firmados em acordos internacionais, as políticas ambientais em curso, os desafios estruturais e as oportunidades de se tornar uma potência verde no cenário global.
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O que é a COP 30 e por que ela é importante para o Brasil?
A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), conhecida como COP, é o principal foro internacional para discussões sobre o enfrentamento da crise climática. Em sua 30ª edição, em 2025, a conferência acontecerá pela primeira vez em uma cidade amazônica, o que, por si só, representa um marco histórico.
Para Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e integrante do Painel Internacional de Recursos da ONU, “a COP 30 é uma oportunidade única para o Brasil consolidar seu papel como protagonista ambiental e mostrar liderança em uma transição justa e verde”.
A escolha de Belém como sede não é aleatória. A Amazônia é essencial para a regulação climática do planeta, abrigando a maior biodiversidade terrestre e atuando como um sumidouro de carbono. Os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil, cobrando posições concretas sobre desmatamento, transição energética e inclusão socioambiental.
Compromissos do Brasil nos acordos internacionais
O Brasil é signatário do Acordo de Paris, assinado em 2015, e se comprometeu a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 (em relação aos níveis de 2005) e em 50% até 2030. Em 2023, o governo federal revisou sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), com o objetivo de retomar a ambição climática anterior a 2020, que havia sido enfraquecida durante gestões anteriores.
Segundos dados do Observatório do Clima, uma coalizão de mais de 70 organizações da sociedade civil, a nova NDC do Brasil alinha novamente o país à meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC, conforme preconizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Entre as metas prioritárias estão:
- Zerar o desmatamento ilegal até 2030;
- Restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa;
- Expandir a matriz energética renovável;
- Promover agricultura de baixo carbono;
- Ampliar a transição para uma economia circular e inclusiva.
Avanços recentes e desafios persistentes
Desde 2023, o Brasil tem mostrado sinais de retomada da agenda ambiental. O desmatamento na Amazônia caiu 50% em relação ao ano anterior, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Essa redução foi impulsionada pelo reforço das fiscalizações, reativação do Fundo Amazônia e cooperação com países como Noruega e Alemanha.
No entanto, especialistas alertam que apenas reduzir o desmatamento não é suficiente. O cerrado, segundo bioma mais ameaçado, tem sofrido com avanço da fronteira agrícola. “É preciso adotar uma visão integrada de biomas e garantir que as políticas climáticas abranjam também o semiárido e o Pantanal”, afirma Suely Araújo, especialista em política ambiental do Observatório do Clima.
O financiamento climático também segue como um dos principais gargalos. O Brasil precisa ampliar a captação de recursos internacionais para projetos sustentáveis, inclusive via o mercado de carbono, que está em processo de regulamentação no Congresso Nacional.

Energia renovável e transição energética
O país já se destaca no uso de fontes limpas, com cerca de 48% da matriz energética composta por fontes renováveis, contra uma média global de 15%, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A energia solar fotovoltaica e a eólica têm crescido significativamente, com potencial de expansão no Nordeste e Centro-Oeste. A meta do governo é dobrar a capacidade de geração renovável até 2030. Para a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, “o Brasil pode se tornar um dos maiores exportadores de energia limpa, inclusive por meio do hidrogênio verde”.
Contudo, o avanço de projetos energéticos precisa respeitar o licenciamento ambiental e os direitos de populações tradicionais, um ponto sensível que pode gerar impasses se não for bem conduzido.
Protagonismo na bioeconomia e justiça climática
Um dos caminhos para o Brasil se destacar na COP 30 é assumir o protagonismo na bioeconomia, que alia conservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico. Produtos da floresta em pé, como açaí, castanha-do-pará e fitoterápicos, têm potencial para gerar riqueza com inclusão social.
A Agenda da Bioeconomia da Amazônia, liderada pelo BNDES e parceiros internacionais, busca fortalecer cadeias produtivas sustentáveis, respeitando saberes tradicionais e promovendo a justiça climática. “Sem equidade social não há sustentabilidade real”, diz Alessandra Korap Munduruku, líder indígena reconhecida internacionalmente por sua atuação em defesa da floresta.
Expectativas para a COP 30: o que o mundo esperará do Brasil
Na COP 30, o Brasil será cobrado não apenas por planos, mas por resultados. O cumprimento efetivo das metas climáticas será um dos principais indicadores de liderança. O país também terá que mostrar capacidade de articular interesses diversos: da indústria, dos povos originários, da agricultura e da comunidade internacional.
Entre as principais expectativas estão:
- Regulação transparente do mercado de carbono;
- Criação de incentivos fiscais para energia limpa;
- Investimento em infraestrutura verde e resiliente;
- Fortalecimento da fiscalização ambiental;
- Ampliação da participação social nas decisões ambientais.

O papel dos governos locais e da sociedade civil
Governadores da Amazônia Legal, por meio do Consórcio Interestadual, têm desempenhado papel relevante na articulação de políticas regionais para o clima. Prefeituras, universidades e organizações não-governamentais também têm se mobilizado com a expectativa de maior protagonismo na COP 30.
A população local deve ser protagonista do evento. “A COP em Belém é uma vitrine, mas também uma responsabilidade. Queremos mostrar ao mundo que a Amazônia tem soluções e que a população pode prosperar sem destruir a floresta”, afirma o governador do Pará, Helder Barbalho.
Considerações finais: COP 30 como divisor de águas para o Brasil
A realização da COP 30 em solo amazônico coloca o Brasil sob os holofotes globais e oferece a chance de liderar uma nova agenda climática centrada na sustentabilidade, na equidade e na cooperação internacional. Mas isso exige não apenas discursos, e sim políticas públicas robustas, monitoramento eficaz e participação ativa da sociedade.
Como destaca Laurence Tubiana, uma das arquitetas do Acordo de Paris, “o Brasil tem todas as condições de se tornar uma potência verde. A COP 30 é a oportunidade de provar isso ao mundo”.
Com uma postura comprometida, transparente e inclusiva, o Brasil pode sair da COP 30 não apenas como anfitrião, mas como verdadeiro líder global na luta contra a emergência climática.