Nos últimos meses, o foco da mídia e das investigações policiais tem recaído sobre artistas digitais como Gato Preto, Oruam e Hytalo Santos, cujos casos estão ligados a crimes graves, segundo autoridades. Abaixo, veja o panorama sobre essas investigações e outros casos relevantes de artistas digitais que acabaram na mira da Justiça. Além disso, confira o contexto da atuação de músicos, rappers e influenciadores sob suspeita ou condenação, contribuindo para refletir sobre as implicações éticas, culturais e legais.

Quem são Gato Preto, Oruam e Hytalo?
Gato Preto
Samuel Sant’Anna, mais conhecido como Gato Preto, é um dos influenciadores investigados na Operação Desfortuna, deflagrada no início de agosto e que cumpriu 31 mandados de busca e apreensão no Rio, São Paulo e Minas Gerais. Os artistas digitais utilizavam suas redes sociais para promover jogos de azar ilegais, com promessas falsas de lucros rápido e fácil. Segundo dados da Polícia e relatórios do Coaf, os 15 investigados na operação contra o “Jogo do Tigrinho” realizaram manifestações suspeitas que superam os R$ 4 bilhões.
Oruam
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, vem se destacando por retratar, com crueza, a realidade das favelas. Filho de Marcinho VP – líder do Comando Vermelho, preso desde 1996 -, ele utiliza em suas letras referências explícitas ao tráfico, violência e presença simbólica da facção. A menção à “selva do Urso” em “Rolé na Favela de Nave” está no centro da polêmica.
Afinal, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, ou simplesmente “Urso”, é uma das principais lideranças do Comando Vermelho. Ele comanda a chamada Tropa do Urso, grupo formado por cerca de 300 homens armados, usados sobretudo em ações de dominação territorial e conflitos com rivais — inclusive em confrontos violentos em favelas do Rio de Janeiro.
Esse vínculo familiar e simbólico reforça a ideia de que suas composições são, no mínimo, provocativas — e, segundo críticos, passam da linha da liberdade artística para a glorificação do crime.

Hytalo Santos
Em agosto de 2025, o influenciador Hytalo Santos foi preso em Carapicuíba (SP), junto com seu marido, em uma operação do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Eles são investigados por crimes de tráfico humano e exploração sexual de adolescentes, conforme denúncia do Ministério Público da Paraíba
Casos emblemáticos: artistas digitais e influenciadores investigados ou presos
MC Poze do Rodo
Preso em maio de 2025 pela Polícia Civil do Rio de Janeiro por apologia ao crime e ligação com o Comando Vermelho. A investigação apontou que seus shows, em áreas dominadas pela facção, eram utilizados para impulsionar o tráfico e divulgar ideologia criminosa.
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Após cinco dias preso, concedido habeas corpus com medidas cautelares. A justiça também criticou o modo da prisão, exacerbado e exposto publicamente.
A prisão de Poze do Rodo gerou debate nacional sobre a criminalização do funk e da cultura negra: intelectuais e artistas alegam que as letras retratam realidades, não incitam crimes.
Deolane Bezerra
Advogada e influenciadora, alvo da Operação Integration (2024), sob investigação por possível esquema de lavagem de dinheiro envolvendo jogos ilegais, como cassinos online e jogo do bicho. A mãe dela também foi presa. Deolane nega as acusações. Ela foi solta após 20 dias, junto com outros investigados.

Mau Mau
Influenciador conhecido como Mau Mau foi preso em agosto em São Paulo por promover o “Jogo do Tigrinho”, um jogo ilegal. Na operação, foi encontrada em sua casa uma arma com numeração raspada, cuja pena varia de 3 a 6 anos, além de multa. Após audiência, foi solto sob medidas cautelares e pagamento de fiança considerável.
Kat Torres
Influenciadora conhecida como Kat ou “Kat A Luz”, foi condenada em 2024 por tráfico de pessoas e escravidão, no caso envolvendo jovens brasileiras nos EUA. A investigação contou com apoio do FBI. Em 2024, foi sentenciada a oito anos de prisão. O caso ganhou repercussão internacional, inclusive em documentário da BBC News Brasil.
Igor Kannário
Cantor baiano preso em 2014 durante gravação de videoclipe por desacato à autoridade. Detido novamente em 2015 por porte de maconha e indiciado por tráfico. Ele atribui as ações policiais à perseguição política e social por ser periférico.
Grupo 509‑E: Dexter e Afro‑X
No rap brasileiro, Dexter e Afro‑X — integrantes do grupo 509‑E — foram presos nos anos 1990 por assalto à mão armada (artigo 157). Foi dentro da prisão que formaram o grupo e deram início à carreira musical.
Nego Di
O ex-BBB Nego Di foi condenado a 11 anos e 8 meses por estelionato e esquema de vendas fraudulentas por meio da loja virtual Tadizuera, que comercializava eletrônicos e eletrodomésticos a preços abaixo do mercado – sem entregar os produtos aos consumidores.
De acordo com a Justiça do Rio Grande do Sul, os crimes ocorreram entre março e julho de 2021 e atingiram ao menos 18 vítimas na cidade de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Big Jhow
O influenciador digital Elizeu Cordeiro, conhecido como Big Jhow, foi preso em novembro de 2022, acusado de promover sorteios ilegais de bens de luxo, incluindo um Lamborghini, e de lavagem de dinheiro através de um esquema milionário envolvendo rifas e empresas de fachada.
Ele foi preso por desobediência após continuar com um sorteio ilegal mesmo com a apreensão judicial do veículo, o que motivou seu sequestro judicial para garantir a ordem pública.
Arnon do Grau
O influencer digital Arnon Henrique, conhecido como Arnon do Grau, é suspeito de matar um jovem de 20 anos com oito disparos. Ele teria participado de um assassinato no dia 11 de março de 2018, na Cabana do Pai Tomás, região Oeste de Belo Horizonte. O crime teria relação com o tráfico de drogas.

Isabela Cristi Gomes Barros e David Barros
A cantora gospel Isabela Cristi Gomes Barros, que se apresentava nas redes sociais como Izabela Cristy, e o marido David Robson de Barros, acusados de aplicar golpes usando uma plataforma de investimento, foram condenados pela Justiça pelos crimes de estelionato e esquema de pirâmide.
DJ Ivis
Iverson de Souza Araújo, de 33 anos, o DJ Ivis, foi condenado a oito meses de prisão por agredir sua ex-mulher, Pâmella Holanda, em 2021
Em julho daquele ano, vídeos do sistema de segurança da casa mostraram o artista espancando violentamente a então esposa, na frente da filha. Na época, DJ Ivis ficou três meses preso.

Influenciadores em Minas Gerais
Gebê: preso por gerir jogos de azar ilegais, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Lucro estimado de R$ 1 milhão por mês com rifas como “Tigrinho”. A polícia apreendeu carros de luxo.
Outros influenciadores foram alvo de investigações por falsificação de documentos, promoção de casas de prostituição, esquemas de rifas, golpes financeiros, e até crimes sexuais e injúria racial.
Há também o caso de um influenciador de Uberlândia condenado a 26 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, após a Operação “Má Influência” e outra ação posterior.
Abuso de influência e estruturas criminosas
Casos como Hytalo, Oruam e MC Poze denotam um padrão: redes sociais são usadas como palco para promover comportamentos ilegais ou facções criminosas estruturadas. A polícia classifica isso como “narcocultura” — uso simbólico e prático de artistas na promoção e financiamento de tráfico.
O caso de MC Poze do Rodo acende alertas sobre como manifestações culturais, principalmente ligadas à cultura negra como funk, são tratadas pela justiça. O professor Pierpaolo Cruz Bottini (USP) argumenta que não há indícios de “incitação ao crime” nas letras, mas sim retrato de uma realidade já conhecida. Ele criticou a forma desumana da prisão.
A antropóloga Mylène Mizrahi destaca que esse tratamento é discrepante em relação a produções violentas em filmes, por exemplo, mostrando um viés cultural de criminalização.
Esse viés encontra ressonância com a opinião de especialistas em Minas Gerais, como o segurança público Jorge Tassi, que defende a necessidade de regulamentar práticas de influencers e fortalecer as polícias especializadas para atuar em crimes online.