A linguagem desempenha um papel fundamental na construção e desconstrução de estereótipos, preconceitos e desigualdades sociais. No Brasil, um país marcado por sua diversidade étnica e cultural, o uso adequado de termos relacionados à etnia, raça, identidade de gênero e outras características sociais é essencial para promover a inclusão e o respeito, além de evitar perpetuar estereótipos, reforçar preconceitos e contribuir para a invisibilidade de comunidades já marginalizadas. Dessa maneira, buscamos esclarecer quando e como utilizar expressões como “negro”, “indígena“, “pardo”, “LGBTQIA+” e outras, com base em orientações de especialistas, instituições e movimentos sociais.

1. A importância da linguagem inclusiva na construção social
A linguagem não é apenas um meio de comunicação: ela reflete e reforça as relações de poder e as estruturas sociais existentes. Termos aparentemente neutros podem carregar consigo séculos de opressão e marginalização. O vocabulário utilizado para se referir a grupos sociais não é apenas uma questão linguística, mas também política e social. Palavras carregam significados profundos que podem afirmar ou negar a identidade de um indivíduo ou grupo. Por exemplo, o termo “índio” tem sido amplamente substituído por “indígena”, pois o primeiro carrega uma conotação colonialista e pejorativa, enquanto o segundo é autodenominado pelos próprios povos originários e reconhece sua ancestralidade e cultura.
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Da mesma forma, no contexto afro-brasileiro, o termo “negro” é amplamente aceito e utilizado por organizações como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). No entanto, é fundamental considerar o contexto e a preferência individual, pois algumas pessoas podem se identificar mais com o termo “preto” ou “pardo”. Portanto, é crucial adotar uma linguagem que reconheça e valorize a diversidade, promovendo a equidade e o respeito mútuo.
2. Diretrizes para o uso respeitoso dos termos
2.1. Etnia e raça
- Etnia: Refere-se a grupos de pessoas que compartilham características culturais, linguísticas, históricas e sociais. É importante utilizar o termo “etnia” quando se deseja destacar aspectos culturais e sociais de um grupo.
- Raça: Embora amplamente utilizado, o conceito de “raça” é cientificamente contestado, pois não há bases biológicas que justifiquem a divisão da humanidade em raças distintas. No entanto, o termo é utilizado socialmente para categorizar e diferenciar pessoas com base em características físicas, como cor da pele.
3. Orientações para o uso de termos relacionados à raça e etnia
Negro e preto
No Brasil, o termo “negro” é amplamente utilizado para se referir a pessoas de ascendência africana. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “negro” engloba as categorias “preto” e “pardo”. É importante ressaltar que a identidade racial é uma construção social e pode variar conforme o contexto histórico e cultural. Por isso, ao escrever sobre indivíduos ou grupos, é recomendável utilizar os termos que eles próprios preferem para se identificar. Evite expressões pejorativas ou que associem a cor negra a aspectos negativos, como “mercado negro” ou “a coisa está preta”.
Indígena
O termo “indígena” é amplamente aceito e utilizado para se referir aos povos originários do Brasil. É preferível a “índio”, que possui conotações históricas de colonização e subordinação. Além disso, em vez de “tribo”, utiliza-se “aldeia” para designar o agrupamento de pessoas. A “terra indígena” refere-se à área onde vivem, e “povo” ou “etnia” são termos adequados para se referir ao grupo de indígenas. Evite expressões como “produto tabajara” ou “solução tupiniquim”, que utilizam termos indígenas de forma pejorativa.

Pardo
O termo “pardo” é utilizado pelo IBGE para se referir a pessoas que se autodeclaram mulatas, caboclas, cafuzas, mamelucas ou mestiças de negro com pessoa de outra raça. No entanto, é importante notar que, apesar de ser uma categoria oficial, muitas pessoas não se identificam com esse termo e preferem se considerar negras ou brancas. Portanto, ao abordar indivíduos ou grupos, é fundamental respeitar a forma como eles se autodeclaram.
LGBTQIA+
O acrônimo LGBTQIA+ engloba lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outras identidades de gênero e sexualidades diversas. É importante utilizar esse termo de forma inclusiva e respeitosa, evitando estigmatizar ou marginalizar qualquer grupo dentro dessa comunidade. Além disso, é recomendável utilizar os pronomes e nomes pelos quais as pessoas se identificam, respeitando sua identidade de gênero.
Outros Termos
- Asiático: Utilize “pessoa de origem asiática” ou “asiático”. Evite estereótipos racistas associados a esse termo.
- Mulher negra: Termo que destaca a identidade de gênero e raça, reconhecendo as especificidades da experiência de mulheres negras.
- Pessoa com deficiência: Evite expressões como “deficiente”, “portador de deficiência” ou “necessidades especiais”. O termo “pessoa com deficiência” é mais respeitoso e reconhece a pessoa antes da condição .
- Quilombola: Refere-se a descendentes de comunidades formadas por negros fugitivos da escravidão. É importante utilizar o termo para reconhecer a luta e a resistência dessas comunidades.
- Ciganos: Termo utilizado para se referir a grupos étnicos nômades. É essencial evitar estereótipos e reconhecer a diversidade dentro desse grupo.
4. Práticas de comunicação respeitosa e inclusiva
Adotar uma linguagem inclusiva vai além de utilizar os termos corretos; envolve também atitudes e práticas que promovam o respeito e a equidade. Algumas recomendações incluem:
- Escutar e respeitar a autodeclaração: Sempre que possível, pergunte como a pessoa prefere ser identificada e utilize os termos por ela escolhidos.
- Evitar estereótipos: Não associe características negativas a grupos específicos, como associar a cor negra a aspectos negativos ou utilizar expressões pejorativas relacionadas a povos indígenas.
- Atualizar-se constantemente: As terminologias podem evoluir com o tempo. Esteja atento às mudanças e atualize seu vocabulário conforme necessário.
- Contextualize-se: Ao abordar questões raciais ou étnicas, forneça contexto histórico e social. Isso ajuda a evitar estereótipos e promove uma compreensão mais profunda
- Educar e sensibilizar: Utilize linguagem inclusiva que englobe todos os gêneros, orientações sexuais e identidades. Por exemplo, ao se referir a um grupo, use “pessoas” em vez de “homens” ou “mulheres”, a menos que o gênero seja relevante para o contexto.
5. Referências institucionais e movimentos sociais
5.1. Manual de comunicação do Senado Federal
O Senado Federal disponibiliza um Manual de Comunicação que orienta o uso adequado de termos relacionados à etnia, raça e deficiência. Por exemplo, recomenda-se o uso de “pessoa com deficiência” em vez de “deficiente”.
5.2. Coletivo Lena Santos
O Coletivo Lena Santos, formado por jornalistas negras e negros, promove um jornalismo antirracista e orienta sobre o uso respeitoso de termos em suas produções.
5.3. Alma Preta Jornalismo
A Alma Preta é uma agência de jornalismo que lançou um Manual de Redação Antirracista, oferecendo diretrizes para uma cobertura jornalística que respeite as identidades étnicas e raciais.
6. Desafios e avanços na mídia brasileira
Apesar dos avanços, ainda existem desafios significativos na representação de grupos étnicos e raciais na mídia brasileira. Segundo jornalistas negros, há uma necessidade de maior equidade, não apenas na representação visual, mas também nas posições de poder e decisão dentro das redações. A presença de profissionais negros em cargos de liderança é essencial para garantir uma cobertura jornalística mais justa e representativa.
7. Utilizar linguagem inclusiva é fundamental para promover a equidade
A utilização de uma linguagem respeitosa e inclusiva é fundamental para promover a equidade e o respeito entre os diferentes grupos sociais. Ao adotar práticas de comunicação que considerem as identidades e preferências dos indivíduos, contribuímos para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.