Carl Bean foi mais do que um pastor: ele foi um pioneiro que desafiou as normas religiosas, sociais e raciais de sua época. Negro, gay e líder espiritual, Bean fundou a Unity Fellowship Church, uma congregação inclusiva para a comunidade LGBTQ+, e tornou-se um ícone da música gospel com o hino “I Was Born This Way”, que inspirou Lady Gaga a criar sua canção homônima. Sua trajetória é um testemunho de coragem, fé e resistência, especialmente em um contexto religioso tradicionalmente conservador.Them

A vida de Carl Bean: fé, música e ativismo
Nascido em 1948 em Baltimore, Maryland, Carl Bean cresceu em um ambiente religioso e musical. Sua carreira artística começou como cantor de soul nos anos 1970, mas foi na música gospel que encontrou sua verdadeira vocação. Em 1977, lançou “I Was Born This Way”, uma canção que celebrava a identidade gay em um momento em que a aceitação era rara, especialmente dentro das comunidades religiosas.
Além de sua carreira musical, Bean dedicou-se ao ativismo social e religioso. Em 1982, fundou a Unity Fellowship Church, uma denominação cristã que acolhia pessoas LGBTQ+, negras e marginalizadas, oferecendo um espaço seguro e afirmativo para a expressão de fé e identidade. Sua igreja tornou-se um modelo de inclusão e resistência, desafiando as normas tradicionais da igreja cristã.
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Carl Bean faleceu em 2021, aos 77 anos, deixando um legado de resistência, fé e inclusão. Seu trabalho permanece como referência para defesa de minorias dentro e fora do ambiente religioso.
A inspiração para ‘Born This Way’ de Lady Gaga
A canção “I Was Born This Way” de Carl Bean tornou-se um hino de empoderamento para a comunidade LGBTQ+. Lady Gaga, fã de longa data de Bean, citou a música como uma inspiração direta para sua própria canção “Born This Way”, lançada em 2011. Gaga reconheceu publicamente a dívida que tinha com Bean, agradecendo-lhe por sua coragem e contribuição à aceitação da identidade queer na música popular.
Em uma postagem no Instagram, Lady Gaga escreveu: “Obrigado por décadas de amor incansável, coragem e uma razão para cantar. Para que todos possamos sentir alegria, porque merecemos alegria. Porque merecemos o direito de inspirar tolerância, aceitação e liberdade para todos”.

A relevância de Bean em um contexto religioso conservador
A trajetória de Carl Bean é especialmente significativa quando considerada no contexto das instituições religiosas tradicionais, que frequentemente adotam posturas conservadoras em relação à sexualidade e identidade de gênero. Bean desafiou essas normas, criando um espaço onde a fé e a identidade LGBTQ+ podiam coexistir de maneira autêntica e afirmativa.
Sua abordagem pastoral enfatizava a inclusão, o amor incondicional e a justiça social, princípios que ressoam com as mensagens de aceitação e compaixão presentes nos ensinamentos de Jesus. Bean acreditava que a igreja deveria ser um reflexo do amor divino, acolhendo todos os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.Them
Outros casos de líderes religiosos LGBTQ+
Embora Carl Bean tenha sido uma figura pioneira, outros líderes religiosos também desafiaram as normas tradicionais em relação à sexualidade. Um exemplo notável é o caso do padre polonês Krzysztof Charamsa, que, em 2015, revelou publicamente sua orientação sexual e criticou a postura da Igreja Católica em relação aos católicos LGBTQ+.
Charamsa, que trabalhava na Congregação para a Doutrina da Fé, foi imediatamente demitido após sua declaração. Ele afirmou que a Igreja causava “sofrimento imensurável” aos católicos homossexuais e pediu uma mudança na postura institucional.
Outro exemplo é o do bispo Gene Robinson, o primeiro bispo abertamente gay da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, cuja ordenação em 2003 gerou controvérsia, mas também abriu portas para discussões sobre a inclusão LGBTQ+ nas igrejas.
A Igreja Católica e a questão LGBTQ+
A postura da Igreja Católica em relação à comunidade LGBTQ+ tem sido historicamente conservadora. Embora o Papa Francisco tenha adotado uma abordagem mais inclusiva, utilizando a frase “Quem sou eu para julgar?” em relação aos gays, a doutrina oficial da Igreja ainda considera atos homossexuais como pecaminosos.
No entanto, figuras como o cardeal Luis Antonio Gokim Tagle têm defendido uma abordagem mais compassiva e inclusiva, enfatizando a dignidade de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual.
Apesar dessas vozes progressistas, a Igreja Católica continua a enfrentar críticas por sua postura em relação à comunidade LGBTQ+, com muitos pedindo uma revisão das doutrinas que marginalizam esses indivíduos.

História de Carl Bean é inspiração para seguir na luta por direitos
A vida de Carl Bean é um exemplo poderoso de como a fé, a identidade e a luta por justiça podem se entrelaçar para criar um legado duradouro. Sua coragem em viver sua verdade e sua dedicação ao serviço da comunidade LGBTQ+ continuam a inspirar e desafiar as instituições religiosas a serem mais inclusivas e compassivas. Em um mundo onde a discriminação ainda persiste, a história de Bean serve como um lembrete de que a verdadeira fé é aquela que acolhe e celebra a diversidade humana.