Nos últimos anos, o Rio de Janeiro tem testemunhado uma expansão significativa das milícias em seu território. Segundo o “Mapa dos Grupos Armados”, estudo realizado pelo Instituto Fogo Cruzado em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI) da Universidade Federal Fluminense (UFF), as áreas sob domínio dessas organizações cresceram 387,2% entre 2006 e 2021 . É o Mapa da Milícia.
Este avanço do grupo criminoso representa uma ameaça crescente à segurança pública e à governança na região metropolitana do estado.
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A expansão territorial no Mapa da Milícia
O mapa da milícia revela que, em 2021, esses grupos controlavam 256,28 km² da região metropolitana do Rio de Janeiro, o que equivale a 10% de toda a área territorial da região . Este crescimento é particularmente notável em áreas urbanas conhecidas como “asfalto”, ou seja, bairros formais fora das favelas.
Entre 2007 e 2009, as milícias ocupavam 45,99 km² em sub-bairros e 51,81 km² em favelas. Já em 2021, 82,7% das áreas de milícia estavam em sub-bairros, totalizando 211,88 km², enquanto apenas 17,3% estavam em favelas.
Impacto populacional e controle social
Assim, o domínio territorial das milícias também se reflete no número de habitantes sob sua influência. Em 2021, aproximadamente 1,7 milhão de pessoas viviam em áreas controladas por milícias, representando 38,8% da população que reside em territórios dominados por grupos armados na região metropolitana.
Esse controle que gera o mapa da milícia vai além da segurança. Estende-se a serviços essenciais como fornecimento de gás, luz, internet, transporte alternativo e até mesmo o mercado imobiliário.
Mapa da Milícia: comparativo com outras facções criminosas
Embora o Comando Vermelho ainda mantenha uma presença significativa, com domínio de 206,83 km² e influência sobre cerca de 2 milhões de habitantes, sua participação no total das áreas controladas por grupos armados caiu de 58,6% para 40,3% entre 2006 e 2021 . Em contraste, as milícias expandiram sua presença sem necessariamente confrontar diretamente outras facções, ocupando áreas anteriormente não dominadas por grupos armados.

A geografia do domínio miliciano
O estudo destaca que as milícias controlam 199 bairros na região metropolitana do Rio de Janeiro, o que representa 21,8% do total. Na cidade do Rio de Janeiro, especificamente, elas dominam 41 bairros, ou 25,5% do total, superando o Comando Vermelho, que controla 39 bairros (24,2%) . Esse domínio é mais pronunciado na Zona Oeste da capital, incluindo áreas como Santa Cruz, Recreio e Barra da Tijuca .
Apesar do extenso controle territorial, as áreas dominadas por milícias registram menos confrontos armados em comparação com aquelas sob influência do tráfico de drogas. Entre 2017 e 2023, 70% das áreas controladas pelo tráfico tiveram confrontos com a polícia, enquanto apenas 31,6% das áreas de milícia registraram tais incidentes . Essa diferença pode indicar uma atuação mais discreta das milícias ou uma menor presença das forças de segurança nessas regiões.
Implicações políticas e sociais
A expansão das milícias tem implicações profundas para a sociedade e a política no Rio de Janeiro. Segundo o professor José Claudio Sousa Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, as milícias evoluíram de grupos de extermínio para organizações complexas com influência nas forças de segurança e na política . Essa infiltração dificulta o combate efetivo a essas organizações e perpetua um ciclo de violência e corrupção.
Um desafio persistente para o Rio de Janeiro
O avanço das milícias no Rio de Janeiro representa um desafio significativo para as autoridades e para a sociedade como um todo. O controle territorial e social exercido por essas organizações compromete a segurança pública, a prestação de serviços essenciais e a integridade das instituições democráticas. É imperativo que políticas públicas eficazes sejam implementadas para conter e reverter essa tendência, garantindo a retomada do controle estatal sobre essas áreas e a proteção dos direitos dos cidadãos.