A fraude no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é um problema que há décadas desafia o governo brasileiro. Esquemas que envolvem benefícios pagos de forma indevida, uso de documentos falsos, concessões manipuladas e até servidores públicos envolvidos em irregularidades têm gerado prejuízos bilionários aos cofres públicos.
A cada nova operação da Polícia Federal ou auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), novas ramificações dessa rede de fraudes vêm à tona. Mas afinal, como esses esquemas funcionam? Quem são os principais responsáveis? E o que está sendo feito para combater essa prática?
Você vai entender tudo sobre a fraude no INSS: os tipos mais comuns, os métodos utilizados, os impactos sociais e econômicos, as investigações mais relevantes dos últimos anos, além das ações implementadas pelo governo para tentar coibir esse tipo de crime.
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O que é a fraude no INSS?
A fraude no INSS ocorre quando há a obtenção indevida de benefícios previdenciários, por meio de falsificação de documentos, declarações falsas ou manipulação de processos. Trata-se de crime previsto no Código Penal, podendo ser enquadrado em estelionato, falsidade ideológica, formação de quadrilha, entre outros.
De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), publicado em 2023, estima-se que mais de R$ 10 bilhões por ano são desviados por meio de fraudes previdenciárias. O número real, porém, pode ser ainda maior devido à dificuldade de rastreamento de muitos benefícios pagos irregularmente.
Tipos mais comuns de fraudes
Segundo o Ministério da Previdência Social e a CGU, os principais tipos de fraude no INSS incluem:
- Benefícios por invalidez indevidos: quando o segurado simula doenças ou apresenta laudos médicos falsos.
- Pensões por morte com documentação fraudada: uso de certidões falsas para manter pensões a beneficiários que não têm direito.
- Fraudes com auxílio-doença: concessões obtidas com documentos médicos adulterados.
- Criação de segurados fictícios: uso de CPFs falsos para gerar registros inexistentes no sistema.
- Corrupção de servidores públicos: participação de funcionários do próprio INSS que facilitam ou concedem benefícios ilegais mediante propina.
Como funcionam os esquemas de fraude
Muitas das fraudes no INSS são orquestradas por quadrilhas especializadas. Elas operam com o apoio de atravessadores, advogados, médicos coniventes e, em alguns casos, servidores públicos. O objetivo é obter concessões de benefícios que, em condições normais, não seriam aprovadas.
Um exemplo clássico é o uso de documentos médicos falsificados para comprovar a incapacidade de trabalho e conseguir auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez. Há também casos de “fantasmas”, pessoas que nunca existiram mas foram registradas no sistema e passaram a receber benefícios.
Segundo a CGU, apenas em 2022 foram identificadas mais de 93 mil irregularidades em cadastros do INSS. A auditoria cruzou dados do Censo, da Receita Federal, do Sistema Nacional de Óbitos e de outras bases, evidenciando fraudes com pessoas mortas recebendo benefícios.
Casos emblemáticos: operações da Polícia Federal
Várias operações da Polícia Federal (PF) já desmantelaram esquemas de fraude no INSS. A seguir, listamos algumas das mais relevantes:
Operação Falsário
Deflagrada em 2022, a operação descobriu um esquema que utilizava documentos falsos para obter benefícios previdenciários em nome de pessoas fictícias. Foram cumpridos mandados em cinco estados e mais de 40 pessoas foram indiciadas.
“Trata-se de um golpe altamente estruturado, com envolvimento de servidores públicos e contadores”, afirmou o delegado responsável pela operação, Carlos Ribeiro.
Operação Nêmesis
Lançada em 2021, essa operação mirou uma rede que atuava com concessões fraudulentas de pensões por morte, por meio da falsificação de certidões de óbito e casamento. Estimativas apontam que o prejuízo ultrapassou R$ 500 milhões.
Operação Recomeço
Investigou o uso de CPFs inexistentes para concessão de benefícios assistenciais. Os fraudadores abriam contas em bancos com documentos falsos e recebiam os pagamentos mensalmente.

O impacto da fraude na Previdência Social
O impacto da fraude no INSS é múltiplo. Vai além do prejuízo financeiro direto: corrói a confiança nas instituições públicas, compromete a sustentabilidade do sistema previdenciário e prejudica quem realmente precisa dos benefícios.
A Previdência Social é financiada por contribuições dos trabalhadores e empregadores. Quando há concessões indevidas, o rombo recai sobre toda a sociedade.
O rombo bilionário
Segundo o relatório do Painel de Auditoria Previdenciária, mantido pelo governo federal, entre 2019 e 2023 foram identificados mais de R$ 30 bilhões em pagamentos irregulares, seja por fraudes ou erros administrativos.
“Esses recursos poderiam estar sendo aplicados no aumento de benefícios legítimos, na melhoria dos serviços previdenciários e na ampliação do acesso à população vulnerável”, pontua a economista Ana Carla Pires, especialista em finanças públicas.

O papel da tecnologia no combate às fraudes
Desde 2019, o governo federal passou a investir fortemente em tecnologias de cruzamento de dados e inteligência artificial para identificar padrões suspeitos e automatizar a detecção de fraudes.
O programa INSS Digital, aliado à integração com bancos de dados como o da Receita Federal, SUS e Justiça Eleitoral, permite hoje uma análise muito mais precisa do perfil dos beneficiários.
“Hoje, conseguimos identificar fraudes antes mesmo do pagamento do primeiro benefício. Isso representa um avanço significativo”, declarou o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, em entrevista à Agência Brasil.
Além disso, o aplicativo Meu INSS passou a oferecer mais transparência sobre o andamento dos pedidos e os documentos utilizados, o que facilita a auditoria e o controle interno.
Ações do governo e propostas legislativas
Para reduzir as fraudes, o governo tem adotado medidas como:
- Pente-fino nos benefícios: auditorias periódicas em concessões de auxílio-doença, pensões e aposentadorias.
- Acordos com órgãos de controle: parceria com TCU, CGU e Ministério Público Federal para compartilhamento de dados e investigações conjuntas.
- Treinamento de peritos e servidores: para evitar falhas na análise de documentos.
- Criação da Força-Tarefa Previdenciária: grupo especial com PF, INSS e Ministério do Trabalho para investigações contínuas.
No Congresso Nacional, há projetos de lei que visam endurecer penas para quem frauda a Previdência e regulamentar melhor os critérios para concessão de benefícios, como o PL 4024/2022.

Como denunciar fraudes no INSS
Qualquer cidadão pode denunciar fraudes no INSS de forma anônima, contribuindo para o combate a esse tipo de crime. As denúncias podem ser feitas pelos seguintes canais:
- Ouvidoria do INSS – telefone 135 ou pelo site gov.br
- Controladoria-Geral da União (CGU) – www.cgu.gov.br
- Polícia Federal – por meio das delegacias regionais
É importante fornecer o maior número de detalhes possíveis, como nome do suposto beneficiário, número do benefício, cidade e o tipo de irregularidade.
O que dizem os especialistas
A economista e pesquisadora do IPEA, Marta Jucá, alerta que “o combate à fraude precisa ser permanente e não apenas reativo. A complexidade do sistema previdenciário favorece brechas que são exploradas sistematicamente por criminosos”.
Já o juiz federal Fernando Rocha, especializado em direito previdenciário, reforça que “as punições precisam ser severas e exemplares. O prejuízo à coletividade é imenso e o sistema não pode ser visto como uma fonte fácil de recursos ilícitos”.

A fraude no INSS representa um dos maiores desafios da administração pública brasileira. Trata-se de um problema sistêmico, que envolve desde falsificações simples até redes criminosas bem estruturadas. Os impactos são profundos, tanto no orçamento da União quanto na credibilidade das instituições.
Apesar dos avanços com tecnologia e auditorias mais rigorosas, o combate às fraudes ainda exige esforço contínuo, fiscalização qualificada e engajamento da sociedade.
A informação é a melhor arma contra esse tipo de crime. Fique atento aos seus direitos, denuncie irregularidades e ajude a preservar o sistema previdenciário para quem realmente precisa dele.