O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é tradicionalmente associado a pessoas idosas. No entanto, nas últimas décadas, observou-se um aumento preocupante na incidência de AVC entre jovens adultos e adolescentes. Dados da Rede Brasil AVC indicam que 18% dos casos de AVC no Brasil afetam pessoas entre 15 e 34 anos. Este fenômeno desperta questionamentos sobre os fatores que contribuem para essa mudança e as medidas preventivas que podem ser adotadas.

O caso de Karen Silva: um alerta para a juventude
Karen Silva, ex-participante do programa “The Voice Kids Brasil” em 2020, faleceu aos 17 anos, no dia 24 de abril, após sofrer um AVC hemorrágico. Ela havia conquistado o coração do público brasileiro com sua voz marcante e presença de palco.
“Era uma menina que não apresentava nenhum tipo de doença’’, lamentou Fernando Sérgio da Silva, pai de Karen Silva, Karen ficou internada no Hospital São João Batista, em Volta Redonda (RJ).
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“Eu queria falar com os pais para tomarem conta das suas crianças. A Karen foi vítima de um AVC, uma coisa fatal. Ela não apresentava nenhum tipo de coisa parecida. Então, pais, levem seus filhos para fazer algum tipo de exame, o caso dela foi algo anormal”, aconselhou o pai da jovem, após o enterro.
Sua morte precoce trouxe à tona a realidade de que o AVC pode atingir pessoas jovens e saudáveis, servindo como um alerta para a sociedade sobre a importância da prevenção e do reconhecimento dos sinais da doença.
Aumento da incidência de AVC em jovens
Dados epidemiológicos
Estudos recentes mostram um aumento significativo na incidência de AVC entre jovens. Entre 1998 e 2007, o número de internações por AVC em pessoas de 15 a 34 anos aumentou 64% entre homens e 41% entre mulheres no Brasil. Além disso, a Organização Mundial de AVC (WSO) observou que a taxa de pessoas com menos de 45 anos acometidas pela doença passou de 10% para 18% durante a pandemia de COVID-19.
Fatores contribuintes
Especialistas apontam diversos fatores que contribuem para esse aumento. O sedentarismo, a alimentação inadequada, o consumo excessivo de álcool, o tabagismo e o estresse são alguns dos principais fatores de risco identificados. Além disso, condições como obesidade, diabetes e hipertensão, frequentemente associadas a esses hábitos, aumentam significativamente a probabilidade de ocorrência de AVC.

Um estudo publicado em outubro de 2024 na revista científica The Lancet Neurology mostrou que os casos de acidente vascular cerebral (AVC) cresceram 14,8% em pessoas com menos de 70 anos no mundo. No Brasil, cerca de 18% da incidência afeta a faixa etária de 18 a 45 anos, segundo dados da Rede Brasil AVC.
No mundo, o número de casos de AVC cresceu 70% entre 1990 e 2021, de acordo com a pesquisa, um aumento de 44% nas mortes por AVC e 32% no agravamento de condições relacionadas à doença. No total, foram 11,9 milhões de novos casos no mundo.
No Brasil, cerca de 39.345 brasileiros morreram devido ao AVC entre janeiro e agosto de 2024, uma média de seis óbitos por hora, de acordo com o Portal de Transparência do Registro Civil (ARPEN Brasil).
Sintomas do AVC em jovens
O reconhecimento precoce dos sintomas do AVC é crucial para minimizar danos cerebrais e sequelas. Nos jovens, os sinais podem ser semelhantes aos observados em adultos mais velhos e incluem:
- Perda súbita de força ou formigamento em um lado do corpo
- Dificuldade para falar ou entender a fala
- Perda súbita de visão em um ou ambos os olhos
- Dor de cabeça intensa e sem causa aparente
- Tontura ou dificuldade para caminhar
Diante de qualquer um desses sintomas, é fundamental buscar atendimento médico imediato.
Prevenção: como reduzir os riscos
A prevenção do AVC em jovens passa por mudanças no estilo de vida. Especialistas recomendam:
- Alimentação saudável: Priorizar frutas, vegetais, grãos integrais e reduzir o consumo de alimentos processados e ricos em gordura.
- Atividade física regular: Praticar exercícios físicos pelo menos 150 minutos por semana.
- Controle do estresse: Adotar técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda.
- Evitar substâncias nocivas: Não fumar e limitar o consumo de álcool.
- Acompanhamento médico: Realizar check-ups regulares para monitorar pressão arterial, níveis de colesterol e glicemia.

Segundo a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC e da Organização Mundial de AVC, “Estamos vendo muitos jovens com pressão alta, diabetes, colesterol elevado, obesidade, inatividade física, tabagismo, consumo exagerado de álcool e muito estressados”.
Crescimento de casos de AVC em jovens é uma realidade
O aumento da incidência de AVC em jovens é uma realidade preocupante que exige atenção e ação. Casos como o de Karen Silva evidenciam a importância de se adotar hábitos saudáveis desde a juventude. A conscientização sobre os fatores de risco e a busca por um estilo de vida equilibrado são essenciais para prevenir essa condição debilitante. A sociedade, juntamente com profissionais de saúde, deve trabalhar para promover a saúde cardiovascular e reduzir a incidência de AVC em jovens nas próximas gerações.