A Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é o principal fórum mundial para discussão de ações contra as mudanças climáticas e promoção de um desenvolvimento sustentável. Desde a criação da COP em 1995, ela tem reunido líderes políticos, representantes de governos, organizações internacionais, especialistas e sociedade civil para traçar estratégias e implementar compromissos globais que busquem mitigar os impactos do aquecimento global. Com a COP 30 marcada para acontecer em 2025, o evento se configura como uma das oportunidades mais importantes para revisar e definir as próximas etapas dos compromissos climáticos.

Nesta matéria, exploramos os principais temas que dominarão a agenda da COP 30, os desafios que o mundo enfrentará nos próximos anos e os compromissos necessários para garantir um futuro mais sustentável para o planeta.
1. A urgência da ação climática: por que 2025 é um marco para o futuro do planeta?
A COP 30 será realizada em 2025, e esse ano será crucial para a concretização dos objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, firmado em 2015. O Acordo de Paris visa limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até o final deste século. No entanto, as projeções mais recentes indicam que o mundo está distante de atingir essa meta. De acordo com o Relatório de Emissões Global de 2023 da Organização das Nações Unidas (ONU), as emissões globais continuam em níveis elevados, e o caminho para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C está ficando cada vez mais estreito.
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Patricia Espinosa, ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), afirmou em uma entrevista que a COP 30 será uma “última chance” para que os países adotem medidas significativas de redução de emissões. Ela destacou a importância de que o evento leve a uma ação coletiva forte e robusta, já que “sem a redução de emissões agora, enfrentaremos um futuro de catástrofes ambientais sem precedentes.”
A urgência da ação climática será um dos principais temas da COP 30, com foco na implementação de políticas eficazes para atingir a neutralidade de carbono. A sociedade mundial exige soluções inovadoras para mitigar os impactos das mudanças climáticas, e a COP 30 será o palco para que lideranças globais façam os compromissos necessários.
2. Ações de adaptação e resiliência: como preparar o planeta para as consequências das mudanças climáticas
Além de mitigar os efeitos do aquecimento global, outro desafio crítico será promover ações de adaptação e resiliência, especialmente para as populações mais vulneráveis. A mudança climática já está afetando o planeta de forma irreversível, com eventos climáticos extremos como secas, inundações, tempestades mais intensas e ondas de calor. Para especialistas, como o climatologista Carlos Nobre, da Universidade de São Paulo (USP), “o foco não pode ser apenas nas emissões, mas também em como adaptar as comunidades e infraestruturas para viver com as mudanças climáticas já em curso.”

O financiamento para a adaptação será um ponto de discussão fundamental na COP 30, uma vez que muitos países, especialmente os em desenvolvimento, não têm os recursos financeiros necessários para implementar as soluções de adaptação. A adaptação envolve, entre outras coisas, a construção de infraestruturas resistentes, a implementação de sistemas de alerta precoce, o manejo sustentável de recursos naturais e o fortalecimento das capacidades locais.
Durante a COP 27, realizada em 2022, um avanço importante foi o estabelecimento do “Fundo de Perdas e Danos”, que visa financiar os países mais afetados pelas mudanças climáticas. Esse fundo será uma das grandes pautas da COP 30, com a discussão de como garantir que os recursos necessários sejam acessados de forma eficaz.
3. Transição energética: o papel da energia renovável e das tecnologias limpas
A transição energética é um dos principais eixos da agenda da COP 30. Especialistas afirmam que uma das soluções mais eficazes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa é substituir as fontes de energia fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, por fontes renováveis, como solar, eólica, hidroelétrica e biomassa. A Organização Internacional de Energia (AIE) prevê que a energia solar será, em 2025, a fonte de energia mais barata do mundo, abrindo novas oportunidades de investimentos e geração de empregos.

No entanto, o processo de transição energética enfrenta vários desafios. A dependência de combustíveis fósseis em muitas economias emergentes é um obstáculo significativo. A COP 30 terá que abordar questões como o financiamento da transição energética, a transferência de tecnologias limpas para os países em desenvolvimento e o fortalecimento da infraestrutura energética global.
O impacto da transição energética também será discutido sob a ótica da justiça social. Como afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU, “não podemos deixar que a transição energética se torne uma nova forma de desigualdade.” A transição energética precisa ser justa e inclusiva, garantindo que os empregos e as oportunidades geradas sejam acessíveis a todos, especialmente às populações mais vulneráveis.
4. Financiamento climático: como garantir recursos para as ações globais
O financiamento climático será um tema central da COP 30, pois muitos países ainda lutam para garantir os recursos necessários para cumprir seus compromissos climáticos. O Acordo de Paris estabelece que os países desenvolvidos devem mobilizar US$ 100 bilhões por ano para apoiar os países em desenvolvimento, mas até agora esse valor não foi alcançado. A crise econômica global e os desafios internos de muitos países dificultam o cumprimento dessa meta.
Além disso, será debatida a importância da mobilização de investimentos privados para apoiar iniciativas climáticas. Bancos multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estão cada vez mais envolvidos em iniciativas de financiamento climático. A criação de novos mecanismos de financiamento será um ponto de destaque, com discussões sobre como tornar os fundos mais acessíveis e eficazes.
Em entrevista à BBC, Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), ressaltou que a “falta de financiamento climático é uma das principais barreiras para a ação climática no Sul Global”. Ela destacou que a COP 30 deve ser o momento para corrigir esse problema, criando um sistema financeiro mais equitativo e eficiente.
5. Perda de biodiversidade: a importância de integrar a conservação ambiental aos esforços climáticos
Outro tema crucial da COP 30 será a integração das ações contra a perda de biodiversidade com as políticas climáticas. A mudança climática e a destruição ambiental estão interligadas, e a perda de biodiversidade agrava ainda mais os impactos das mudanças climáticas. Florestas tropicais, como a Amazônia, desempenham um papel fundamental no sequestro de carbono e na regulação climática, e sua destruição tem repercussões globais.
Durante a COP 30, será discutida a importância de integrar as estratégias de conservação da biodiversidade com as políticas de mitigação e adaptação climática. O governo brasileiro, por exemplo, já declarou que a preservação da Amazônia será uma de suas prioridades na agenda climática.
A proteção dos ecossistemas, a recuperação de áreas degradadas e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis são questões que precisam ser abordadas com urgência. Como afirmou Elizabeth Maruma Mrema, secretária executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), “proteger a biodiversidade e mitigar as mudanças climáticas são duas faces da mesma moeda.”
6. Justiça climática: o papel das populações vulneráveis e a igualdade no combate às mudanças climáticas
A justiça climática será uma das discussões mais importantes da COP 30. As populações mais vulneráveis, como povos indígenas, comunidades locais e países em desenvolvimento, são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, mas muitas vezes têm os menores recursos para se adaptar ou mitigar os impactos.
A COP 30 precisará garantir que os direitos dessas populações sejam respeitados e que elas tenham uma voz ativa nas negociações. A voz das comunidades locais será crucial para criar soluções que atendam às necessidades específicas de cada grupo, levando em consideração as desigualdades sociais e econômicas.
O futuro do planeta está nas mãos da COP 30
Com a COP 30 se aproximando, o mundo enfrenta desafios climáticos sem precedentes. A urgência da ação climática, o financiamento para a adaptação e a transição energética, a integração da conservação da biodiversidade, a justiça climática e os compromissos concretos serão pontos de destaque nas discussões. Como alerta o climatologista James Hansen, “não podemos mais adiar as decisões que definirão o futuro do planeta.” A COP 30 será, sem dúvida, uma oportunidade única para que as lideranças globais se comprometam a agir de forma decisiva e eficaz para garantir um futuro mais sustentável para as gerações futuras.