Com apenas 44 hectares de extensão territorial — o equivalente a cerca de 60 campos de futebol — o Vaticano é o menor país do mundo, tanto em área quanto em população. Apesar de seu tamanho diminuto, sua relevância política, cultural e religiosa é imensa. Mas como surgiu esse microestado localizado no coração de Roma, na Itália? O que garantiu sua soberania e status internacional? E por que o Vaticano exerce tanta influência no cenário global?
Vamos explorar a origem do Vaticano, entender seu status como Estado independente, examinar sua estrutura política e religiosa e discutir os fatores que fazem dele uma potência mundial apesar de suas proporções geográficas.
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O Vaticano é o menor país do mundo em números
Segundo o Anuário Estatístico do Vaticano, o Estado da Cidade do Vaticano ocupa uma área de apenas 0,44 km² e conta com uma população de cerca de 800 habitantes, sendo que nem todos residem dentro do território.
O Vaticano é considerado um enclave soberano, ou seja, um país completamente cercado por outro — neste caso, pela cidade de Roma. Sua independência é reconhecida internacionalmente, e ele mantém relações diplomáticas com mais de 180 países, além de status de observador permanente na Organização das Nações Unidas (ONU).
Como surgiu o Vaticano?
A história do Vaticano remonta aos primórdios do cristianismo, mas sua existência como Estado soberano só foi oficializada no século XX. Para entender sua origem, é preciso conhecer alguns marcos históricos:
1. As origens religiosas: o martírio de São Pedro
A tradição católica afirma que o apóstolo Pedro, considerado o primeiro Papa, foi martirizado e enterrado no local onde hoje está a Basílica de São Pedro. No século IV, o imperador Constantino mandou construir a primeira basílica sobre o túmulo de Pedro, consolidando a importância religiosa da área.
2. O poder temporal dos Papas: os Estados Pontifícios
Durante a Idade Média, os Papas passaram a exercer poder político e territorial, governando os chamados Estados Pontifícios — um conjunto de territórios que cobria grande parte da Itália central. Esse domínio durou até o século XIX.
3. A unificação italiana e a Questão Romana
Com o processo de unificação da Itália, os Estados Pontifícios foram sendo incorporados ao novo Reino da Itália. Em 1870, as tropas italianas tomaram Roma, e o Papa Pio IX recusou-se a reconhecer a autoridade italiana sobre a cidade, dando início ao que ficou conhecido como Questão Romana.
Durante mais de meio século, os Papas se consideraram “prisioneiros no Vaticano”, sem reconhecer a legitimidade do Estado italiano sobre os antigos territórios papais.
4. O Tratado de Latrão (1929): nascimento oficial do Vaticano
A situação só foi resolvida em 1929, com a assinatura dos Tratados de Latrão entre o Papa Pio XI e o governo fascista de Benito Mussolini, em nome do rei Vítor Emanuel III. Esses acordos garantiram:
- O reconhecimento da soberania plena do Vaticano como Estado independente;
- A compensação financeira pelos territórios perdidos;
- O estabelecimento da religião católica como religião oficial da Itália (modificado após a Constituição de 1948);
- A garantia de liberdade religiosa e diplomática ao Papa.
Com isso, nasce oficialmente o Estado da Cidade do Vaticano.

O que torna o Vaticano um Estado?
Apesar de sua singularidade, o Vaticano cumpre os critérios definidos pelo Direito Internacional para ser considerado um Estado soberano:
- Território definido;
- População permanente (embora pequena);
- Governo independente;
- Capacidade de manter relações com outros Estados.
Além disso, o Vaticano possui uma estrutura política única:
- É uma monarquia eletiva absoluta;
- O chefe de Estado é o Papa, eleito vitaliciamente pelo Colégio de Cardeais;
- Possui sua própria guarda militar, a tradicional Guarda Suíça;
- Emite passaportes, selos, moeda e placas de carro próprias;
- Opera seus próprios meios de comunicação, como a Rádio Vaticano e o Vatican News.
A importância diplomática do Vaticano
Mesmo com seu tamanho minúsculo, o Vaticano exerce influência diplomática e moral significativa. O Papa é reconhecido como uma das figuras mais importantes do mundo, com capacidade de intervir em conflitos, promover causas humanitárias e influenciar decisões políticas e éticas.
O Vaticano mantém embaixadas (chamadas de nunciaturas apostólicas) em dezenas de países e participa ativamente de fóruns internacionais. A Santa Sé, entidade soberana representada pelo Papa, é observadora permanente na ONU desde 1964.
Segundo o professor de relações internacionais John L. Allen Jr., autor de vários livros sobre o Vaticano:
“A Santa Sé é um ator diplomático singular, que combina espiritualidade com pragmatismo político. Sua voz ressoa além das fronteiras religiosas.”
Cultura, turismo e religião: os pilares da influência
O Vaticano é também um dos destinos turísticos mais visitados do mundo, atraindo milhões de pessoas todos os anos. Os Museus Vaticanos, a Basílica de São Pedro e a Capela Sistina são pontos de grande valor artístico, cultural e espiritual.
Além do turismo, o Vaticano é o coração da Igreja Católica, que conta com mais de 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo. Sua influência se estende a questões morais, sociais e políticas, com pronunciamentos papais que impactam temas como:
- Direitos humanos;
- Mudanças climáticas;
- Economia global;
- Imigração;
- Bioética e ciência.

O futuro do menor país do mundo
Apesar de seu passado marcado por conflitos e disputas territoriais, o Vaticano caminha para um futuro focado em modernização e abertura. O Papa Francisco tem implementado reformas internas, buscando maior transparência financeira, acolhimento de minorias e engajamento com a juventude.
A recente digitalização de documentos, a adesão a iniciativas ambientais como o Acordo de Paris e a postura ativa em crises internacionais mostram que o menor país do mundo continua sendo um dos mais influentes.
O historiador italiano Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, afirma:
“O Vaticano pode ser pequeno em território, mas é imenso em significado. Sua força está na capacidade de unir espiritualidade com presença concreta no mundo.”
Vaticano é o menor país do mundo
Sim, o Vaticano é o menor país do mundo em extensão territorial e população. Mas sua história, seu papel na fé católica, sua relevância diplomática e sua riqueza cultural fazem dele um verdadeiro gigante em termos de influência global.
Desde as origens cristãs no túmulo de São Pedro até sua consolidação como Estado soberano com o Tratado de Latrão, o Vaticano trilhou um caminho único na história da humanidade. Em um mundo em constante transformação, sua permanência como símbolo de fé, cultura e diplomacia é um testemunho do poder das ideias e da espiritualidade sobre as limitações geográficas.