Nos últimos anos, uma nova geração de influenciadores digitais tem desafiado as normas tradicionais da indústria do entretenimento e das redes sociais. Utilizando a sexualidade e o erotismo como ferramentas de engajamento, esses criadores de conteúdo têm conquistado milhões de seguidores e gerado discussões sobre ética, monetização e liberdade de expressão. Artistas que adotam nomes artísticos como MCs ou DJs, por exemplo, têm explorado essas temáticas de forma audaciosa, muitas vezes ultrapassando os limites do convencional.

A ascensão das plataformas adultas
Plataformas como OnlyFans, Privacy e Telegram tornaram-se espaços onde criadores de conteúdo adulto podem interagir diretamente com seus fãs, oferecendo material exclusivo e personalizado. Essa mudança de paradigma permite que artistas independentes monetizem seu trabalho de maneira mais eficaz, sem a necessidade de intermediários tradicionais. Segundo dados da plataforma Privacy, houve um aumento de 7% em seu portfólio em 2024, atingindo a marca de 370 influenciadores e registrando faturamentos históricos, consolidando-se como a maior rede social de monetização de conteúdo adulto da América Latina.
O mercado de influenciadores digitais no Brasil é um dos maiores do mundo, com mais de 10,5 milhões de usuários no Instagram, segundo dados da NielsenIQ Ebit . Dentro desse universo, uma parcela significativa tem se dedicado ao conteúdo adulto e erótico, utilizando plataformas como OnlyFans, JustForFans e 4myFans para compartilhar material exclusivo e interagir diretamente com seus seguidores.
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De acordo com um estudo publicado na arXiv, a motivação de novos criadores de conteúdo sexual em plataformas como o OnlyFans está relacionada à visibilidade social, aceitação mainstream e autonomia proporcionada pela plataforma . A pandemia de COVID-19 também desempenhou um papel crucial nesse crescimento, oferecendo uma alternativa de renda durante períodos de isolamento social.
Estratégias de monetização e impactos
Esses influenciadores digitais utilizam diversas estratégias para monetizar seu conteúdo, como a criação de perfis em plataformas de assinatura, venda de conteúdos exclusivos e realização de shows ao vivo pagos. A utilização de pseudônimos artísticos, como MCs ou DJs, permite-lhes criar uma persona que mistura arte e erotismo, ampliando seu alcance e atraindo diferentes públicos.
Além disso, muitos desses criadores de conteúdo utilizam suas plataformas para discutir temas como empoderamento feminino, identidade de gênero e sexualidade, contribuindo para a quebra de tabus e promoção de debates sociais importantes.
Casos notáveis de influenciadores
1. DJ Brisa
DJ Brisa é uma artista brasileira que ganhou notoriedade ao popularizar o twerk no Brasil. Após uma performance no Programa Silvio Santos em 2017, ela percebeu o potencial de monetizar sua imagem e ingressou no mundo do conteúdo adulto. Em 2019, registrou a marca “Twerk Brasil” e lançou o treinamento “Bad Bitch”, ensinando estratégias para mulheres se empoderarem financeiramente. Além disso, DJ Brisa possui seu próprio site adulto e realiza eventos e projetos relacionados ao estilo de vida que promove.
2. MC Pipokinha
MC Pipokinha é uma cantora e influenciadora brasileira que combina funk com conteúdo explícito. Em 2023, revelou ter faturado mais de R$ 500 mil com seu perfil na plataforma Privacy. Sua abordagem provocativa e performances ousadas a tornaram uma figura polarizadora, gerando tanto apoio quanto críticas. Além disso, foi alvo de campanhas para o cancelamento de seus shows, evidenciando o impacto cultural e político de seu trabalho.
3. Belle Delphine
Belle Delphine é uma influenciadora britânica que se tornou famosa por suas paródias de cultura pop e conteúdo provocativo. Após ser banida do TikTok, ela migrou para o OnlyFans, onde seus ganhos mensais chegaram a ultrapassar 1 milhão de libras. Seu estilo mistura elementos de cosplay, fetiches e humor negro, atraindo uma base de fãs fiel e gerando discussões sobre os limites da sexualidade na internet.
4. Sophie Rain
Sophie Rain é uma influenciadora americana que ganhou destaque ao associar sua imagem à virgindade e ao cristianismo, criando um contraste com o conteúdo explícito que compartilha. Em 2024, anunciou ter faturado US$ 43 milhões no OnlyFans em seu primeiro ano na plataforma. Sua abordagem única e estética “não convencional” a tornaram uma figura controversa e amplamente discutida nas redes sociais. Wikipédia
5. Yuri Oberon
Yuri Oberon é um ator e influenciador brasileiro conhecido por seu trabalho na indústria do entretenimento adulto LGBT. Além de atuar em filmes, ele criou um canal no OnlyFans e participou de projetos musicais e culturais, como o videoclipe “Pelo Amor de Deize” da cantora Jup do Bairro. Sua presença nas redes sociais e engajamento com a comunidade LGBT o tornaram uma figura influente e respeitada no cenário digital.
6. Beiçola da Privacy
Martina Oliveira, conhecida como Beiçola da Privacy, é uma camgirl brasileira que se destacou por seu marketing agressivo e conteúdo provocativo. Em 2023, alcançou o topo da plataforma Privacy, tornando-se uma das influenciadoras mais acessadas da América Latina. Sua trajetória, que inclui a criação de um sex shop online e a viralização no TikTok, exemplifica o poder das redes sociais na construção de uma carreira no universo adulto.
“É uma sensação incrível de dever cumprido. Obviamente, sempre quero e tento ser a melhor em tudo que faço, inclusive no meu trabalho”, disse Martina.

7 – Mel Fire
Mel Fire é uma atriz, streamer e dominatrix brasileira que se destacou na indústria do entretenimento adulto. Além de atuar em filmes pornográficos, ela possui um canal no YouTube, “The Mel Fire Show”, onde compartilha conteúdos relacionados a games e experiências pessoais. Em 2017, recebeu o prêmio de “Revelação do Ano LGBT” pelo Sexy Hot, conhecido como o “Oscar do pornô brasileiro” .
8 – Gabi Benvenutti
Gabi Benvenutti é uma escritora e influenciadora que ganhou notoriedade ao relatar suas experiências como ex-prostituta em um blog que alcançou mais de um milhão de acessos. Seu livro “O Prazer É Todo Nosso” foi publicado em 2014, e ela é mestre em educação sexual pela Unesp. Sua trajetória inspirou a criação de uma personagem na novela “Segundo Sol” da Rede Globo .
9 – Bruna Surfistinha
Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, tornou-se famosa ao publicar relatos de sua vida na prostituição em um blog, atingindo mais de 50 mil leitores diários. Seu livro “O Doce Veneno do Escorpião” se tornou best-seller, e ela também atuou como DJ e roteirista. Sua história gerou debates sobre trabalho sexual e uso de plataformas digitais para narrativas autobiográficas.
10 – Andressa Urach
A ex-modelo e empresária brasileira liderou o ranking de influenciadores digitais mais acessados na plataforma Privacy em 2024, faturando cerca de R$ 6,5 milhões. Sua trajetória inclui uma carreira na televisão e uma transição bem-sucedida para o conteúdo adulto, destacando-se pela autenticidade e engajamento com seus seguidores.
“Estou realizada, pois trabalhei muito para isso! É um presentão de Natal essa notícia”, comentou a líder do ranking do Privacy em 2024.

Aspectos éticos e legais
A atuação desses influenciadores digitais levanta questões sobre ética, consentimento e regulamentação. Especialistas em direito digital e ética da comunicação destacam a importância de políticas claras para proteger tanto os criadores de conteúdo quanto os consumidores. Além disso, há debates sobre a responsabilidade das plataformas em moderar conteúdos e garantir a segurança dos usuários.
Apesar do sucesso, esses influenciadores digitais enfrentam diversos desafios, como a moderação de conteúdo em plataformas mainstream, estigmatização social e questões legais relacionadas ao trabalho sexual. O OnlyFans, por exemplo, implementou regras mais rígidas para conteúdo adulto, proibindo vídeos em locais públicos e exigindo consentimento expresso de todos os participantes.
Além disso, a monetização desse tipo de conteúdo é desigual, com uma pequena porcentagem de criadores recebendo a maior parte da receita gerada na plataforma.
Impacto cultural e social
A ascensão desses influenciadores digitais reflete uma mudança cultural significativa, onde a sexualidade é abordada de maneira mais aberta e sem censura. Especialistas em comportamento digital apontam que essa tendência está ligada ao desejo de autenticidade e à busca por espaços onde as normas tradicionais são desafiadas. Além disso, a monetização direta permite que os criadores de conteúdo tenham maior controle sobre sua produção e renda.