Socialite morta a tiros pelo seu então companheiro Doca Street, Ângela Diniz será tema de série que estreia na HBO Max nesta quinta-feira, 13 de novembro

A história de Ângela Diniz voltará a ganhar projeção. A socialite, que foi morta a tiros pelo seu então companheiro Doca Street na Praia dos Ossos em 30 de dezembro de 1976, será tema de “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, série que estreia na HBO Max.
Caberá a Marjorie Estiano fazer o papel de Ângela Diniz. O playboy Doca Street, assassino de Ângela Diniz, é interpretado por Emilio Dantas. O crime ocorrido em Búzios chocou o país e se tornou emblemático na luta contra o feminicídio.
Quem foi Ângela Diniz?

Nascida em 10 de novembro de 1944 em Curvelo (MG), Ângela Maria Fernandes Diniz era filha de Newton Viana Diniz e Maria do Espírito Santo Fernandes Diniz, e posteriormente fez parte uma família da alta sociedade de Belo Horizonte. Aos 17 anos, Ângela casou-se com o engenheiro Miguel Villas-Bôas e teve três filhos.
Depois de nove anos de casamento, o casal se desquitou (pois ainda não havia a Lei do Divórcio no Brasil). No acordo, Ângela Diniz teve direito à mansão e a uma pensão mensal. No entanto, a guarda dos três filhos ficou com o ex-marido.
Em 1973, um crime expôs o nome da socialite. O caseiro e vigia de sua casa, José Avelino dos Santos, foi encontrado morto. Ângela Diniz assumiu a autoria a princípio, alegando legítima defesa. Porém, posteriormente o milionário Arthur Vale Mendes, conhecido como Tuca Mendes, disse que foi o responsável pela morte, alegando que o homem tentou atacar Ângela.
Tuca chegou a ser condenado, mas depois sua pena foi suspensa. Embora não tenha sido associada ao crime, Ângela Diniz passou a ser julgada pela opinião pública, devido ao havia se envolvimento com um homem casado.
Ângela Diniz, a “Pantera de Minas”: histórias no Rio de Janeiro
Marcada por esta história, Ângela Diniz deixou Belo Horizonte e foi para o Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, passou a frequentar as festas da alta sociedade e ganhou de Ibrahim Sued o apelido de “a Pantera de Minas”. A socialite chegou a ter um envolvimento amoroso com o jornalista.
No Natal de 1974, Ângela Diniz foi a Belo Horizonte e visitou seus filhos. Mesmo com a decisão judicial que mantinha a guarda com Milton Villas Boas, a socialite levou a filha Cristiana com ela de volta para a Cidade Maravilhosa. O ex-marido entrou com processo na Justiça e Ângela foi condenada a seis meses de prisão (mas foi morta antes que a pena fosse aplicada). A socialite não pôde mais ver os filhos.
No ano seguinte, uma batida policial encontrou mais de 100 gramas de maconha no apartamento da socialite. Ângela Diniz admitiu ser viciada em drogas e respondeu ao processo em liberdade.
Doca Street e Ângela Diniz: romance, brigas e assassinato

Em agosto de 1976, Ângela Diniz conheceu Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street. Os dois foram apresentados pelo jornalista Ibrahim Sued. Ângela e Doca logo engataram um romance.
O playboy se separou de sua esposa, Adelita Scarpa, e trouxe a socialite para morar com ele em um apartamento em Copacabana. No entanto, a relação entre Doca Street e Ângela Diniz foi marcada pela paixão e por muitas brigas.
O casal discutia asperamente e Doca manifestava com frequência os seus ciúmes por Ângela Diniz. A discussão fatal aconteceu em 30 de dezembro de 1976, durante uma temporada na casa de veraneio na Praia dos Ossos, em Búzios.
Irritado com o fato de Ângela Diniz ter ido à praia ao lado da turista alemã Gabriele Dyer, Doca Street expôs seus ciúmes. A socialite, irritada, rompeu a relação com o playboy e o mandou embora.
Furioso, Doca retornou à casa e matou Ângela Diniz com quatro tiros (três no rosto e um na nuca).
Por que o primeiro julgamento de Doca Street foi controverso?

Doca Street fugiu do local do crime, mas foi capturado. Seu primeiro julgamento aconteceu em 17 de outubro de 1979, e ficou marcado pela linha de defesa do advogado Evandro Lins e Silva.
O defensor alegou legítima defesa da honra e definiu Ângela Diniz como “depravada e libertina”, afirmando que ela “arranhava os corações dos homens como uma pantera”. Além disto, atribuiu ao comportamento “devasso e promíscuo” da socialite a “reação” de Doca Street, que cometeu o crime por ciúmes e amor. O júri condenou Doca a dois anos de prisão, com direito a sursis, o que permitia que ele cumprisse a pena em liberdade.
O julgamento teve uma grande repercussão negativa. Houve uma onda de protestos de grupos feministas, na qual o lema que marcou época foi “Quem ama não mata”.
O que personalidades disseram sobre o primeiro julgamento do “caso Ângela Diniz”?

Personalidades também se manifestaram. O cartunista Henfil, fez uma charge em “O Pasquim” na qual dizia “Estão quase conseguindo comprovar: Ângela matou o Doca”.
O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu em uma crônica: “Aquela moça continua sendo morta todos os dias”.
Novo julgamento do “caso Ângela Diniz”: crime e castigo

Diante da repercussão, houve um novo julgamento em torno do “caso Ângela Diniz”. Desta vez, Heleno Fragoso foi o promotor, enquanto Humberto Telles foi o advogado de defesa.
Doca Street foi condenado a 15 anos de prisão. Após três anos em regime fechado e dois no semiaberto, cumpriu o restante da pena em liberdade condicional. O playboy voltou a atuar no comércio financeiro e no mercado de automóveis. No ano de 2006, lançou o livro “Mea Culpa”, no qual atribuiu o crime a uma “paixão intensa” por Ângela Diniz.
Doca Street morreu em 18 de dezembro de 2020, em decorrência de um ataque cardíaco.
Morte de Ângela Diniz influencia em mudança na lei

O julgamento em torno da morte de Ângela Diniz influenciou em uma mudança significativa na lei brasileira. Poucos anos depois do feminicídio ser incluído como crime hediondo no Código Penal, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou em 2023 a considerar a tese da “legítima defesa da honra” inconstitucional. O ministro Dias Toffoli afirmou que a tese “contraria os princípios da dignidade humana, da proteção da vida e da igualdade de gênero”. Caso o argumento seja usado de forma direta ou indireta, o julgamento pode ser anulado.
A ministra Carmen Lúcia citou o julgamento de Ângela Diniz para votar pela retirada do argumento de legítima defesa da honra do Código Penal.
“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”

“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” levará a história da mulher que se tornou símbolo da luta contra a violência de gênero para o streaming. Baseada no podcast “Praia dos Ossos”, a trama terá seis capítulos e estreia em 13 de novembro no HBO Max.