A discussão sobre o fim da escala 6×1 no Brasil voltou ao centro das atenções após declarações recentes do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que sugeriu uma reavaliação do modelo atual de jornada semanal. A proposta, ainda em estágio inicial, reacende o debate sobre o equilíbrio entre produtividade, bem-estar dos trabalhadores e a sustentabilidade econômica para as empresas.
A escala 6×1 — em que o trabalhador atua por seis dias consecutivos e folga um — é prevista pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e é amplamente utilizada em setores como comércio, serviços e indústria. A ideia de sua possível extinção levanta questões jurídicas, sociais e econômicas que impactam tanto empregados quanto empregadores.
Neste artigo, você confere uma análise aprofundada sobre o tema, com base em declarações oficiais, opiniões de especialistas em direito trabalhista, estatísticas e tendências internacionais.
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O que é a escala 6×1 e por que está sendo discutida?
O modelo 6×1 está regulamentado no artigo 67 da CLT, que garante ao trabalhador um descanso semanal remunerado de 24 horas consecutivas, preferencialmente aos domingos. Essa jornada pode ser distribuída de várias formas, como 44 horas semanais em seis dias (por exemplo, de segunda a sábado com 7h20 de trabalho por dia).
A proposta de revisão surgiu em meio a discussões mais amplas sobre direitos trabalhistas, saúde mental e qualidade de vida. Segundo o ministro Luiz Marinho, o modelo atual precisa de modernização. “Não é mais admissível, em pleno século 21, que as pessoas tenham apenas um dia de descanso por semana. Precisamos repensar esse formato”, afirmou o ministro em entrevista à TV Brasil no início de abril.
A fala gerou reações variadas. Entidades sindicais apoiam a revisão, enquanto representantes do setor empresarial expressam preocupações com os custos de reorganizar turnos e a possível perda de competitividade.
Quais as mudanças propostas?
Ainda não há um projeto de lei oficial que trate exclusivamente do fim da escala 6×1. No entanto, especialistas apontam que a discussão caminha para dois principais cenários:
- Redução da carga semanal sem redução salarial, com uma jornada de cinco dias e dois dias de descanso (modelo 5×2).
- Flexibilização do modelo, permitindo ao trabalhador escolher sua jornada, com maior previsibilidade de folgas.
De acordo com o professor da FGV Direito SP, José Pastore, referência em relações do trabalho, a tendência é que o governo e as entidades envolvidas construam uma proposta equilibrada. “Não se trata de extinguir o trabalho aos finais de semana, mas de garantir que os trabalhadores tenham intervalos mais frequentes, sem prejudicar a operação das empresas”, analisa.
Impactos esperados no setor produtivo
A eventual mudança para uma escala com dois dias de folga por semana pode ter efeitos diversos dependendo do setor. No comércio varejista, por exemplo, a escala 6×1 é predominante, principalmente em shoppings e supermercados, onde o funcionamento aos domingos e feriados é a regra.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), uma alteração no modelo pode impactar diretamente os custos operacionais. “A troca da jornada 6×1 para 5×2 exige mais contratações ou redistribuição de turnos. Isso tem implicações financeiras, especialmente para pequenas e médias empresas”, explicou o economista da CNC, Fabio Bentes, em nota divulgada no portal da entidade.
Já setores com jornadas mais flexíveis ou regimes parciais, como tecnologia da informação e consultoria, não seriam tão afetados.

A experiência internacional
Países como Alemanha, França e Suécia adotam há décadas modelos de jornada reduzida. Na maioria dos países da União Europeia, a jornada semanal varia entre 35 e 40 horas, distribuídas geralmente em cinco dias úteis.
Um estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2023 mostrou que a redução da carga semanal de trabalho está diretamente associada à melhoria da saúde mental, aumento da produtividade e maior engajamento dos colaboradores.
No entanto, o mesmo estudo aponta que a transição exige planejamento estratégico e diálogo entre todas as partes envolvidas. “É preciso considerar a realidade de cada setor e evitar decisões unilaterais que comprometam o equilíbrio econômico e social”, destaca o relatório da OIT.
O que dizem os trabalhadores?
Para os trabalhadores, a possibilidade de duas folgas semanais representa um avanço importante. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em fevereiro de 2025, 78% dos entrevistados se disseram favoráveis ao fim da escala 6×1, desde que não implique redução de salário.
A técnica de enfermagem Aline Silva, de 34 anos, conta que trabalha em regime 6×1 há mais de 10 anos. “É cansativo, principalmente para quem tem filhos. Um segundo dia de folga faria toda a diferença para descansar ou estar com a família”, diz.
Por outro lado, há preocupação com a adaptação da rotina. “A gente teme que empresas tentem compensar essa mudança com horas extras ou revezamento mais apertado, o que pode gerar mais estresse”, afirma o metalúrgico Paulo Cesar Nunes, de 41 anos.
O que dizem os juristas?
Especialistas em direito do trabalho alertam que uma eventual alteração na escala 6×1 precisaria respeitar os limites constitucionais e envolver negociação coletiva. Segundo a advogada trabalhista Camila de Oliveira, do escritório Machado & Castro, qualquer mudança deve ser regulamentada por lei ou convenção coletiva.
“A CLT prevê o direito ao descanso semanal remunerado, mas não especifica dois dias de folga. A mudança exigiria alteração legislativa ou um novo entendimento via jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho”, explica a advogada.
Ela reforça que, mesmo que a proposta venha do Executivo, será preciso envolver o Congresso Nacional, sindicatos e o Judiciário na construção do novo modelo.
Próximos passos: o que esperar?
Embora ainda não haja um texto formal, o governo sinaliza que pretende debater o tema ao longo de 2025, com audiências públicas e escuta ativa da sociedade civil. A expectativa é que qualquer medida seja implementada de forma gradual.
“Nosso objetivo é construir um ambiente de trabalho mais humano, sem prejudicar a economia. A mudança virá com diálogo e responsabilidade”, afirmou Luiz Marinho durante evento promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em abril.

O fim da escala 6×1 é possível?
A discussão sobre o fim da escala 6×1 está longe de ser apenas uma questão técnica. Ela envolve aspectos econômicos, sociais, legais e culturais. A possibilidade de oferecer duas folgas semanais é vista como um avanço pelos trabalhadores, mas exige do setor produtivo planejamento para adaptação.
Empresas, sindicatos e governo precisam encontrar um equilíbrio que permita evoluir nas relações de trabalho sem comprometer a competitividade. A mudança, se vier, deve ocorrer de forma gradual e dialogada, como têm apontado especialistas e representantes das instituições envolvidas.
Por enquanto, o trabalhador segue regido pela CLT e pela escala 6×1, mas o cenário pode mudar nos próximos meses. Estar informado é o primeiro passo para compreender seus direitos e deveres em meio às transformações do mundo do trabalho.